EPISÓDIO 1 – ENCONTRO COM A MORTE
Na sociedade carioca reside uma
família renomada, dona de um império da aviação e muito poderosa. A Família
Abrazacks tinha de longe o prestígio e o glamour, representados pelas suas
festas finas e suas infinidades de bens materiais que faziam questão de exibir
às pessoas menos favorecidas. Uma família que transparecia união, amor,
solidariedade e respeito perante todos, mas que no seu íntimo escondia uma
podridão inimaginável, mas que estava prestes a vir à tona.
Na intenção de unir a família, a
matriarca, Berenice, organizou uma ceia de natal na mansão. Convidou os três
filhos, Rodolfo, Demétrio e Magda. Irmãos que seguiram rumos distintos, e que
travam uma disputa desenfreada pela posse da fortuna da família e do controle
da empresa Abrazacks Airline...
E assim aconteceu...
25 de Dezembro de 2015 – 00:10 - noite
Reunidos em uma grande mesa, na sala
de jantar, estavam:
Os
familiares:
- Berenice.
- Rodolfo, sua esposa, Leila, e seus
filhos Edgar, Eloísa e Caíque, este último era filho adotivo.
- Demétrio, sua esposa, Helena, e os
filhos Danilo e Léia, também chamada de Leinha.
- Magda e seu namorado Sérgio.
Os
convidados:
- Douglas, diretor geral da Abrazacks
Airline e amigo de Rodolfo, com sua noiva Mara.
- Gonzales, médico de confiança de
Berenice.
- Vivian, uma jornalista influente e
amiga de Leila.
- O deputado, Pablo, sua esposa
Yolanda e seu assessor Castro.
- Andressa, amiga de Berenice.
Havia presentes na sala os empregados,
Calista, governanta da mansão, Mariana e Olivia, as empregadas, e Paulo, um
cozinheiro chefe contratado por Leila.
Os ocupantes da mesa tinham os olhos
voltados para Rodolfo, que de pé, com uma taça de champanhe na mão direita,
fazia um discurso em nome da família.
-
Hoje é um daqueles dias em que paramos para refletir todos os últimos dias do
ano. E não é a toa que estamos aqui reunidos hoje. Família e amigos. E é em
nome da família Abrazacks que faço um brinde ao amor, a união e maravilha que é
fazer parte dessa família. Um brinde.
Todos erguem as taças.
25 de Dezembro de 2015 – 03:45 – noite
Leila estava diante de dois
investigadores da polícia civil do Rio de Janeiro. O detetive Fontes e sua
parceira Lúcia. Era um interrogatório que estava sendo feito em um escritório
da mansão. Leila estava com um semblante abatido.
-
Seu marido tinha inimigos? Alguém a quem pudéssemos começar a investigação? –
Pergunta Fontes.
-
Jamais. Rodolfo sempre foi um homem de muitos amigos. Todos aqui gostavam muito
dele. – Leila enxuga as lágrimas e continua - Não acredito que nenhuma dessas
pessoas teria intenção de machucá-lo.
-
Mas não necessariamente estas pessoas. – corta Lúcia – O que queremos saber é
da vida particular da vítima. Há algum desafeto de seu marido?
-
Olhe inspetora, sendo bem sincera eu não sei. Eu nunca me meti na vida privada
do meu marido. Pode até ser que ele tenha algum desafeto, mas eu não sei. Não
posso afirmar nada.
Fontes e Lúcia se olham por alguns
segundos. Leila continua.
-
Ainda não consigo acreditar que tudo isso esteja acontecendo. Parece um
pesadelo terrível. Eu só quero acordar logo e descobrir que nada disso é
real...
25 de Dezembro de 2015 – 01:05 – noite
Mariana, empregada da mansão, caminha
a passos rápidos carregando uma pilha de toalhas dobradas, que acabara de
secar. Dirigia-se para a casa da piscina térmica nos fundos da mansão. Ela
atravessou todo o jardim e entrou na casa.
Ao entrar, ela passou ao lado da
piscina e foi até um grande closet, onde abriu e depositou as toalhas dobradas.
Fechou a porta do closet e ao virar-se para retornar aos afazeres na casa
principal se deparou com a cena que mudou os planos da noite:
Rodolfo estava completamente nu,
sentado em uma cadeira com os braços amarrados por trás, uma mordaça na boca e
quatro golpes de faca, cujo o sangue escorria pelo corpo.
Mariana entrou em choque e tudo o que
pode fazer foi soltar um grito de pavor que logo foi ouvido por várias pessoas
na mansão.
25 de Dezembro de 2015 – 01:40 – noite
Olívia, empregada da mansão, entrega
uma xícara de chá para Berenice, que se encontra sentada em uma poltrona,
amparada pela filha, Magda, e suas nora Helena.
-
Tome um pouco do chá, sogra. Vai lhe fazer bem. – Diz Helena.
-
Obrigada, Olívia. – Agradece Magda. – Tome mamãe.
Berenice toma um gole do chá e coloca
a xícara sobre uma mesinha ao lado.
-
Isso parece um pesadelo. Que horror. Quem poderia ter feito uma barbaridade
dessas com o meu filho? Quem?
Todos os convidados da ceia, descritos
anteriormente, estavam presentes na sala, e olhavam-se entre si ao ouvir os
lamentos de Berenice. Os olhares eram de desconfiança, culpa, medo e por outros
motivos. Todos poderiam se tornar suspeitos, caso algumas verdades viessem à
tona.
. . . . . . .
Após voltar da sala, Olívia entra na
cozinha e coloca a bandeja que carregava, sobre o balcão. Mariana, ainda
abalada com o que presenciará, estava desconsolada. Olívia se aproxima dela.
-
Dona Berenice está desolada. Não para de chorar.
-
Mas também, o que você queria? Só eu sei o que vi. Foi uma coisa horrível o que
fizeram com o seu Rodolfo.
-
Mas também, cá entre nós, o seu Rodolfo não era nenhum santo. E você sabe
disso.
-
Como assim? Eu não sei do que você está falando.
-
Claro que sabe. Pensa que eu não vi hoje mais cedo. Você e o seu Rodolfo na
lavanderia. Por isso não me espanto com o seu chororô.
-
Xiii... Calada. Ficou maluca. O que você viu não significa nada. Eu jamais me
meteria com alguém dessa casa.
-
Eu só estou dizendo o que eu vi. Agora enxuga essa cara e trata de dar uma
ajuda lá na sala antes que reparem no seu luto.
Olívia se afasta e Mariana respira
fundo.
. . . . . . .
Demétrio estava no escritório
acendendo um charuto. Após esbaforir o primeiro trago, ele serve um conhaque e
caminha até uma foto de Rodolfo, que estava sobre a estante. Demétrio pega a
foto e traga mais uma vez, soltando a fumaça lentamente.
-
É! Acho que acabou pra você meu irmão.
De repente Magda entra no escritório,
pegando Demétrio de surpresa.
-
Magda!? Pensei que estivesse cuidando de nossa mãe lá no quarto.
-
Helena e Leila já estão fazendo isso.
-
Claro. Deixe as noras fazerem o trabalho pela filha. Você nunca esteve presente
mesmo.
-
Escuta aqui Demétrio, quem é você pra vir me dar lição de moral? Você não é
melhor ou pior do que eu. Com certeza deve estar por trás da morte do Rodolfo.
Você seria bem capaz disso.
-
Ficou maluca. Nunca mais repita uma barbaridade dessas. Eu posso ser qualquer
coisa, menos um assassino.
-
Eu não ponho minhas mãos no fogo pela sua inocência.
Magda se vira e sai do escritório.
Demétrio atira o copo que estava segurando contra a parede. Mas atrás,
escondida atrás da porta que estava entreaberta, Andressa estava observando
Demétrio e refletindo sobre a conversa que acabará de escutar.
. . . . . . .
Os filhos de Rodolfo e Leila, (Edgar,
Eloísa e Caíque) estavam sentados na varanda da mansão, junto com os primos
Danilo e Leinha.
-
Eu ainda não consigo acreditar que o meu pai está morto. – fala Eloísa, com os
olhos marejados de lágrimas.
-
Nem eu. – diz Edgar.
-
A tia Leila e a vovó estão arrasadas lá no quarto. – Fala Leinha.
-
Vai ficar tudo bem. – Fala Danilo acariciando os cabelos de Eloísa enquanto abraça ela.
Mesmo presente na cena, Caíque parecia
distante de tudo. Seu pensamento viajava e voltava à outra ocasião. Algo que
aconteceu e que somente ele e Rodolfo tinham conhecimento.
07 de Dezembro de 2015 – 15:45 – tarde
Rodolfo estava sentado no escritório.
Caíque entra de repente. Estava transtornado. Carregava alguns papéis na mão.
Ele coloca os papéis sobre a mesa.
-
Me diz que isso não é verdade.
Rodolfo olha os papéis.
-
Onde você conseguiu isso? Estava mexendo nas minhas coisas? Quem te deu esse
direito?
-
Responde a minha pergunta. – Caíque grita e bate com os punhos sobre a mesa.
-
Tenha modos seu moleque. Com quem você pensa que está falando?
Caíque se acalma um pouco. Rodolfo faz
a volta ao redor da mesa e fica diante de Caíque.
-
Isso são apenas papéis. O que isso importa? Nada vai mudar. Nada.
-
Quando você e mamãe iam me contar que eu sou adotado?
-
Quando fosse preciso.
-
Eu tinha o direito de saber.
-
Claro que tinha. Mas o que você queria? Você é nosso filho agora. Você tem tudo
o que muitos gostariam de ter. Tem uma família que te ama e só quer o seu bem.
-
Eu agradeço a generosidade, mas existem coisas que eu preciso saber. Agora mais
do que nunca. Quem são os meus verdadeiros pais?
Rodolfo respira fundo.
-
Isso eu não sei. Te adotamos em uma casa de caridade. Foi logo após sua mãe ter
perdido o filho que ela esperava. Suas origens foram ocultadas. Não tivemos
acesso a nada. Satisfeito.
-
Não! Mas vai ser difícil confiar em vocês agora.
Caíque sai do escritório. Rodolfo olha
os papeis novamente e fica pensativo.
25 de Dezembro de 2015 – 02:20 – noite
Em um canto da casa, afastado de
todos, o deputado Pablo conversa com o seu assessor, Castro.
-
Fez o que te pedi?
-
Tudo. – Fala Castro.
-
Ninguém pode saber disso. A família Abrazacks é muito importante pra mim. Essa
morte ainda vai me render muito. Agora me consegue uma bebida.
-
Com licença.
A esposa de Pablo, Yolanda, se
aproxima dele.
-
O que você está tramando com o seu lacáio?
-
Querida! Não vi que estava por aqui.
-
Não fuja da minha pergunta, Pablo. Eu ouvi perfeitamente quando falou para o
Castro sobre algum serviço. O que está tramando?
-
Escute meu amor. Existem negócios na política que não podem ser abertos a
todos. Mas tem a minha palavra de que não é nada demais. Confia em mim.
-
Eu confio. Só tenho medo. Você viu o que fizeram com o Rodolfo. Deus o livre de
acontecer algo assim com você.
-
Não se preocupe com isso. Ninguém vai me fazer nada.
Pablo beija sua esposa e lhe dá um
abraço.
. . . . . . . . .
As
viaturas da polícia e alguns outros veículos, perícia e o carro do IML chegam à
mansão. Sirenes ligadas, porém sem nenhum som.
De
dentro do carro da polícia, saem o detetive Fontes e sua colega de trabalho,
Lúcia. Eles param em frente a viatura e olham para a mansão.
- Quem mansão! Fala Lúcia.
- Espero ter uma igual algum dia. –
Diz Fontes.
- Vamos lá.
. . . . . . . . . .
Na cena do crime, Fontes e Lúcia
analisam tudo com cuidado. O corpo de Rodolfo permanecia da mesma forma como
foi encontrado por Mariana. Os peritos colhiam algumas evidências que iam
encontrando, enquanto um fotógrafo tirava algumas fotos.
Lúcia analisava o local com cuidado.
-
O nome da vítima é Rodolfo Abrazacks, quarenta e sete anos. Altura aproximada
de um metro e oitenta centímetros, pesando em torno de oitenta e cinco quilos.
-
Que brutalidade. O que você acha? – Pergunta Lúcia.
-
Acho que um inimigo muito enfurecido, ou uma amante muito louca, lavram a alma
com tanto sangue.
-
Você acha que pode ter sido uma mulher?
-
Talvez. Mas prefiro ouvir os convidados da festa antes de levantar qualquer
suspeita.
Fontes se afasta, analisando o corpo
de Rodolfo. Lúcia olha em volta e descobre uma pilha de roupa jogada em um
canto. Ela se aproxima e percebe que são roupas de um homem. Ela coloca as
luvas e analisa, descobrindo um celular no bolso da calça.
-
Fontes! Vem aqui um minuto.
Fontes se aproxima.
-
Achou alguma coisa?
-
Acho que essas roupas são da vítima. – Lúcia mostra o celular – E encontrei
isso no bolso da calça.
-
Um celular. Que ótimo. Talvez seja o início de um caminho que nos leve ao
assassino. Está ligado?
-
Sim.
25 de Dezembro de 2015 – 03:50 – noite
De volta a cena do interrogatório de
Leila. Esta estava tomando um copo de água, servido por Olívia.
-
Obrigada! Fala Leila entregando o copo para Olívia.
Olívia se retira do escritório.
-
Entendo sua situação. Perder o seu marido desta forma tão brutal deve ser uma
experiência desagradável. – Fala Lúcia.
-
Certamente. Rodolfo era o pilar desta família. Seu pai, Genaro, confiou em suas
mãos todo o império Abrazacks. Eu não consigo imaginar como vai ser daqui para
frente.
-
Estão casados há quanto tempo? Pergunta Fontes.
Leila fica intrigada com a pergunta,
mas responde naturalmente.
-
Nos casamos a vinte e nove anos. Completaríamos trinta no início do ano que
vem.
Fontes se aproxima da mesa e pega o
celular, o mesmo que encontraram nas roupas de Rodolfo.
-
Bastante tempo. Certamente já estavam em uma relação bem desgastada, não é
mesmo?
-
Como assim? Eu não estou entendendo aonde o senhor quer chegar com essas perguntas?
O homem que eu amo morreu essa noite e ao invés de estar debruçada aos prantos,
estou aqui nessa sala sendo interrogada como uma suspeita.
-
Permita-me corrigir sua colocação, dona Leila, mas esse interrogatório é
necessário. Não estamos acusando-a de nada. Mas é justo que tratemos do caso
falando com as pessoas mais próximas da vítima. Todos serão ouvidos.
-
Claro. Fala Leila demonstrando impaciência.
-
A pergunta que fiz dona Leila tem fundamento nisso. – Fontes mostra o celular
para Leila – Reconhece?
-
É o celular do Rodolfo. O que tem ele?
-
Encontramos no bolso da calça que seu marido estava usando. Analisamos o
aparelho em busca de evidências. Encontramos uma mensagem de texto enviado para
um contato chamado Banker. Conhece alguém com esse nome?
-
Não! E não estou entendendo o que tem haver uma coisa com a outra.
-
Acontece que essa mensagem fala de um futuro divórcio. – Fala Lúcia.
-
Divórcio? Que divórcio? Como assim? Não estou entendendo.
-
Dona Leila, na mensagem o seu marido afirma que já conversou com a senhora
sobre o divórcio e que tudo ficaria pronto antes mesmo do início do ano.
-
A vítima ia se divorciar de você. Agora porque não nos conta exatamente o que
aconteceu entre vocês nos últimos dias.
Leila fica pálida ao ouvir Fontes e
Lúcia indo pra cima dela daquela forma. Ficou em silêncio e não soube o que
falar...
Continua...
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