–
Olha, eles chegaram. - Disse Clarice, voltando o
olhar para a sala e convidados.
O novo casal enfim chegou até o apartamento, depositaram as bolsas
de gelo, e voltaram para a sala como se nada tivesse acontecido. Porém, Clarice
havia esfriado. Estava, todavia calma, e risonha. Mas por dentro uma fera
indomável. - Alguém está com fome? - Perguntou para esquivar-se do beijo de
Gerardo iria lhe dar.
Como faltava muito pouco para as 00h, todos se sentaram a
mesa e iniciaram a ceia. Um maravilhoso estrogonofe de camarão fazia parte do
cardápio. Muito suco e espumante também estavam presentes sobre a mesa. De
sobremesa, uma deliciosa torta de amora, que chamava atenção.
Assim que terminaram de jantar, por volta de uma da manhã, e
conversarem um pouco mais. Maiorias dos convidados se foram, era momento de
iniciar-se a limpeza. A última convidada e por sinal outra grande melhor amiga
de Clarice, ficou alguns minutos a mais.
–
Gera, Andrea, vou descer com a Manoela até o
hall. Não demoro! - Disse fechando a porta. Já sabendo do que iria encontrar ao
voltar, ela desceu tranquila e parecia que nada acontecia. Por volta de 1h40 da
manhã, o táxi para a amiga chegou, assim, ela voltou para o apartamento. Antes
de entrar respirou fundo, contou até dez e entrou. Surpresa! Sim, no sofá da
sala, estavam Andrea e Gerardo em calientes beijos.
Assustados com a presença de Clarice no local, eles tentaram
ainda disfarçar. Porém...
–
Não, sério! - Ela desviou o olhar e seguiu para
a cozinha – Não parem por minha causa, por favor!
–
Eu posso explicar! - Disse Gerardo, nervoso e se
recompondo. - Não é bem o que parece.
–
Aham... - Ironizou – Aliás, tá faltando batata
frita e chocolate. Amanhã quero comer e não pode faltar. Não esquece de
comprar! - Respondeu Clarice na cozinha.
Tensos, Gerardo e Andrea não paravam de se olhar. Era como se
Clarice tivesse aceitado, mas as coisas mudaram. Clarice estava de volta a
sala. Apoiou-se na janela, e pela primeira vez, fumou um Marlboro. Não dizia
nada, apenas observava pela janela. Olha! Alguém passava por ali numa
bicicleta, deveria ser alguém voltando pra casa após uma longa noite de
trabalho no natal. A campa da bicicleta pedia passagem para o vazio da rua.
–
Clar, não fica chateada comigo. - Andrea
aproximou-se da janela. - Foi impulso do momento, não deveria ter acontecido.
Clarice voltou a tragar o cigarro e, soltou toda fumaça de
forma leve. E lá se ia todo ódio pela fumaça janela a fora.
–
Talvez, você me ache uma tonta, uma loser... -
Clarice sorriu. - Mas, não sou tão boba assim... Duas vezes, que eu vi, em uma
noite. Acha mesmo que... “Foi por impulso”? Clarice caminhou até Gerardo, que
estava cabisbaixo no sofá, apenas ouvindo. - Impulso... Amor, você conseguiu
comprar seu gelinho?
Gerardo olhou-a aflito. Parecia querer cavar naquele momento
um buraco e sumir!
–
Me desculpa. - Era tudo o que ele sabia dizer.
–
Amor, você comprou gelo? - Clarice aproximou-se
e quedou frente ao rapaz. – Acho que você precisará dele agora! – Sem muita
piedade, ela apagou o cigarro no rosto de Gerardo.
O rapaz parecia não acreditar, e um forte grito foi solto no
local. Era incrível como um cigarro poderia causar tanta dor numa pessoa!
- AAU! - Gritou – O
que você fez sua louca? – Gerardo estava em pânico, e correu para a cozinha na
tentativa de amenizar a dor com água ou algo que viesse a sua frente.
- Tá doida!? – Andrea partiu para a ignorância, e as duas
iniciaram uma batalha longa... Quase que um “Jogo dos tronos” ou até uma
espécie de “Jogos Vorazes”! Nunca se sabe quando se trata de briga de mulher,
tudo vira arma. As duas pareciam estar grudadas, nada as soltava. Mesa de
centro caiu, sofá foi longe, cadeira parecia ser de papel... E os cabelos?
Ah... Estes pareciam que haviam sido eletrocutados. Tapas iam e vinham, e Gerardo, bom... Apareceu quase vinte e cinco minutos depois.
- Parem! – Gerardo parecia perdido em meio aquela confusão.
Ele se enfiou entre as duas lobas, e pumba! Conseguiu separa-las por alguns
segundos.
Mas, quando anda poderia piorar, Clarice parte para o ataque
e novamente se enrosca com Andrea, parecia interminável a confusão. Clarice sem
perceber – talvez, se aproximou da janela. E, como se estivesse empurrando uma
boneca de pano, arremessou entre unhadas e tapas na cara, Andrea andar a baixo.
Como por reflexo, Gerardo se jogou janela abaixo para tentar salvar Andrea. Ele
não pensou duas vezes, a cena parecia câmera lenta. Apenas olhando para frente,
como se tivesse um ponto fixo, Clarice derramou algumas lágrimas, mas,
lentamente virou-se em direção a cozinha.
Ela entoava uma canção em voz baixa, quase inaudível.
- “Mas e
se a gente separa? Se a gente para e se parara... Para que se a gente para, o
mundo acabou!” – Era uma melodia que a deixava tranquila, mas nervosa ao mesmo
tempo. Ao chegar à cozinha, buscou uma embalagem dentro de uma das gavetas do
armário. Abriu-a e despejou aquele pozinho escuro por cima de uma deliciosa
torta de amora – ou que sobrara em cima da mesa. Ela voltou à sala com –
talvez, duas fatias daquela torta. Ainda sem acreditar muito, voltou a olhar
pela janela. No chão, dois corpos juntinhos no asfalto. Quase que coladinhos.
Geleia de morango havia em quantidade demasiada no chão, estão ali Gerardo e
Andrea. Clarice havia jogado parte da
torta com geleia de morango em cima dos corpos. Era perceptível o estado de
loucura da grota, mas algo estava errado. Chorando ao lado de Andrea estava
Gerardo, inconsolado. Façamos uma volta nas penúltimas cenas...
- Parem!
– Gerardo parecia perdido em meio aquela confusão. Ele se enfiou entre as duas
lobas, e pumba! Conseguiu separa-las por alguns segundos.
Mas,
quando anda poderia piorar, Clarice parte para o ataque e novamente se enrosca
com Andrea, parecia interminável a confusão. Clarice sem perceber – talvez, se
aproximou da janela. E, como se estivesse empurrando uma boneca de pano,
arremessou entre unhadas e tapas na cara, Andrea andar a baixo. O nervosismo de
Clar, a fez com que visse uma cena ao invés de outra. Em sua mente, viu por
reflexo, Gerardo jogando-se janela abaixo para tentar salvar Andrea. Ele
aproximou-se na verdade da janela. Fitou os olhos lacrimosos em sua amada, sim,
Clarice e saiu correndo pelo corredor vazio do Edifício Pascoal. Desceu as
escadarias e foi de encontro na rua vazia com o corpo de Andrea, todo torto no
chão. Voltando para o apartamento 312...
Caída ao
chão, está Clarice, que com um peso enorme na consciência, envenenou seu prato
preferido. Ao seu lado: Uma fatia de torta de amora, um garfo largado no chão e
uma faca, com geleia de morango.
–
Amor,
amor... - Sussurrava a jovem com cabelos castanhos e pele clara, mantendo-se de
olhos fechados. O vento que entrava pela janela, fazia com que a cortina
flutuasse.
Clarice
tomou forças, mesmo envenenando-se aos poucos. Levantou-se e olhou pela janela
a rua escura e sem movimento. - Era pra sermos você e eu! – exclamou. Sobre o
efeito do veneno, Clarice apagou e do oitavo andar, caia como um meteoro. Noite
triste. Nada feliz, a geleia virara sangue em segundos, e um amor perdido por
conta de um oitavo andar.
Loucura?
Não... Apenas coisas de amantes de amoras. Sabe... Quem enxerga além de si, não
enxerga a si mesmo.
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