sábado, 12 de dezembro de 2015

Parte 1: Oitavo Andar




Duas da manhã no edifício Pascoal e poucas luzes acesa, noite natalina e boa parte dos poucos moradores daquele prédio de pouco mais de sete andares não estavam em casa. Duas ou três luzes a mais, apenas. Era uma noite fria, tranquila para aquele bairro do Rio Grande do Sul. No térreo não havia mais ninguém ali, àquela hora. No oitavo andar, o último do Pascoal, tocava um jazz que dava um clima mais a dois no local. O corredor estava vazio e, não se via ninguém, apenas a porta entre aberta e um feixe de luz do apartamento 312.  Na sala do apartamento, copos e pratos pareciam ter sido usados por animais, estavam no chão e quebrados. A janela estava aberta e, sentada ao chão estava Clarice, ao seu lado: Uma fatia de torta de amora, um garfo largado no chão e uma faca, até então melada com geleia de morango.

                    Amor, amor... - Sussurrava a jovem com cabelos castanhos e pele clara, mantendo-se de olhos fechados. O vento que entrava pela janela, fazia com que a cortina flutuasse. Clarice tomou forças, levantou-se e olhou pela janela a rua escura e sem movimento. - Era pra sermos você e eu! - exclamou. 

No chão, dois corpos juntinhos no asfalto. Quase que coladinhos, geleia de morango havia em quantidade demasiada no chão, estão ali Gerardo e Andrea. Essa história começa assim. Um final que não trágico. Às vezes o amor mela a vida e alma com um pouco de geleia de morango.

25 de dezembro de 2013 – 20h.

                    Aqui, Andrea tira o frango do forno!  Gera, você não tá pronto? Os convidados estão quase chegando! - Quase em estado de pânico, Clarice andava de um lado a outro organizando os últimos detalhes da ceia natalina que iria dar para alguns amigos.

O tempo passava-se e, o jantar e a decoração estavam prontos, os convidados – oito ou nove gatos pingados na sala comiam e bebiam. Tudo parecia maravilhoso, e estava!

                    Esqueceu de comprar mais gelo, Clar? - Gritou Gerardo da sala. Da cozinha, Clarice e Andrea preparavam-se para servir o jantar.
                    Amor vai comprar! - Respondeu Clarice.
                    Preciso de ajuda, são muitas bolsas... Não tem como subir com tudo sozinho na volta...

Logo Andrea, amiga a anos do casal, se prontificou. Pegou a bolsa e o celular, e saiu junto a Gerardo. A caminho do supermercado, Gerardo e Andrea estavam animados e o som do carro, os distraiu por um momento. O carro atravessou o sinal vermelho, quase colidindo com outro carro, que estava em sua vez. Gerardo freou forte, e a garota foi de vez no para-brisa, machucando a testa.

                    AU! - Disse Andrea levando imediatamente sua mão à testa, que agora sangrava.
                    UH! Deixe-me ver. - Disse Gerardo limpando o sangue com um pano qualquer ali do carro. - Não foi nada grave, vai passar. - Gerardo e Andrea se olhavam, não era normal entre eles manter o olhar fixo ao outro por mais de 20 segundos! Andrea fechou os olhos, e logo sentiu outros lábios tocarem aos seus.  Foi um beijo de sentimento, como nunca Andrea antes havia sentido.
                    Desculpe. - Disse Gerardo ao afastar-se da garota. - Não podemos fazer isso, a Clarice nos mataria!
Andrea então permaneceu em silêncio. Cabisbaixa, apenas concentrou-se na sua dor.  O caminho foi feito, compraram as bolsas de gelo, e voltaram. Perto de casa, Andrea finalmente criou coragem e falou:
                    Não precisa ela saber.
                    O que? - Perguntou surpreso, Gerardo.
                    É. Não precisa ela saber! - Repetiu Andrea. - Passamos muito tempo juntos, Clarice e eu temos muito em comum e você não vai estranhar, e nem ela perceber.
                    Talvez... - Nesse momento Gerardo analisou e imaginou as duas como uma. -… Mas, eu amo a Clar, e ela não merece ser traída.
                    E quem falou que vamos ter algo sério? Nesse instante, apenas viveremos o momento, É o que importa, - Andrea parecia segura e afim de talvez, quem sabe, perder sua amizade com Clarice.
Assim que os dois ali no carro criaram coragem para se olhar, mal perceberam que já estava estacionado de frente a casa, e voltaram a se beijar. Da janela, Clarice observou o outro lado da rua, onde o carro estava estacionado, e viu a cena que jamais esperaria ver em sua vida.

Ela, lógico, manteve a pose e não fez escândalo. Apenas percebeu que uma lágrima havia fugido de seus olhos, porém logo ela a secou.

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