domingo, 28 de dezembro de 2014

Episódio 5: Socorro

Cena 01. Mansão de Socorro, quarto da mesma. Interior, noite.
Final da penúltima cena do episódio 04. Continuando do mesmo local.
RAIMUNDA – Sou eu, sim, seu tamanduá vesgo! Orca, burra...! Bolota é mãe, sua emergente de bosta!
SOCORRO – (Grita) Seus desgraçados! Eu vou botar todo mundo para correr, seus nojentos! Eu sou uma mulher honrada e decente...
ASTROGILDO – Calma aí, potranca! Eu não tenho nada a ver com isso!
RAIMUNDA – Tem sim! Nós dois estamos aqui para roubar o diamante!
SOCORRO – Eu sabia! Vocês NÃO vão ter diamante nenhum, seus ridículos! Eu quero vocês fora daqui. Mas antes eu vou ensinar essa Raimunda a virar gente!
Socorro começa a bater em Raimunda, que revida. Astrogildo tenta intervir mas leva uma panelada de Socorro, e cai, desmaiado. Socorro e Raimunda continuam a se espancar. Socorro consegue pegar a panela novamente e bate na cabeça de Raimunda, que também desmaia. Se levanta e vai em direção a porta, de onde sai Roslene, com a arma apontada para ela.
ROSLENE – Chega, Raimunda! Eu tentei por bem! Tantas vezes... Agora você vai ver do que eu sou capaz!
Roslene pega a panela, com a arma apontada para Socorro. Com a panela bate em Socorro, que desmaia. Astrogildo e Raimunda acordam.
Corta para:

Cena 01. Mansão de Socorro. Exterior, dia.
Estamos no lado de fora da enorme mansão de Socorro. Um carro está passado em frente a ela. Da casa de Socorro sai Astrogildo, que carrega a mulher nos braços, desmaiada. Logo atrás vem Roslene e Raimunda, observando todos os lados, com medo. Eles entram no carro, que sai. CAM passeia até uma árvore, no quintal em frente da casa de Socorro. Uma pessoa misteriosa com um casaco grande cinza observa tudo. Não vemos quem é.
CAM foca na pessoa.
Continuação, corta para:

Cena 03. Carro de Roslene. Interior, noite.
Estamos no carro de Roslene, modelo de luxo. Raimunda está no banco ao seu lado. Do lado de trás está Astrogildo, que traz Socorro em seu colo, desmaiada.
RAIMUNDA – (Nervosa) E aí, Roslenita, gênia: Qual seu plano B?
ROSLENE – Querida, esse já é meu plano H. Agora vamos para o único local possível em que consigo imaginar...
ASTROGILDO – A casa da Socorro? Digo, a antiga?
ROSLENE – Melhor e mais bem pensado que isso, meu caro. Vamos agora para a casa onde Tia Difuntina nasceu. Lá ninguém nos achará.
Corta para:

Cena 04. Carro misterioso. Interior, noite.
Estamos em um carro misterioso, guiado pela pessoa da cena 02, que segue o carro de Roslene. Não vemos quem é.

Cena 05. Casa antiga. Interior, dia.
CAM entra em uma casa muito antiga. Luzes apagadas. Entram Roslene, Raimunda e Astrogildo.
ROSLENE - Chegamos! É aqui!
RAIMUNDA - (Deslumbrada) Nossa! Mas que casão! Isso daqui é um palácio! 
ROSLENE - Sua ignorante! É casarão. 
RAIMUNDA - Tanto faz sua sacoleira da Amazônia! Vai coletar açaí, sua assalariada da Natura! 
ASTROGILDO - As periguetes vão ficar puxando o mega-hair uma da outra ou vamos entrar?
ROSLENE - Ai, para de boiolice, Astrogildo! Vamos entrar sim! Aliás, vocês dois peguem a Socorro no porta mala!
Astrogildo vai até o carro e pega Socorro, que está dentro de um porta malas, ainda desacordada.
ASTROGILDO - (Ofegante) Mas que bundão pesado! Delicioso, porém pesado.
Todos entram dentro do casarão.
RAIMUNDA - (Assustada) Rô! Vamos à delegacia AGORA! Roubaram todos os seus moveis! 
ROSLENE - Eu juro que vou fingir que você não disse isso. É um casarão abandonado, sua anta!
Astrogildo chega com Socorro.
ASTROGILDO - Pelo amor de deus, se a Socorro ainda falar comigo depois disso tudo eu vou mandar ela fazer uma bela de uma dieta!
ROSLENE - Não quero saber. Só quero que você acorde essa porca mutante, logo, para que eu pegue o diamante de uma vez.
RAIMUNDA - Acorda ela, Astrogildo.
ASTROGILDO - Socorro? Sô? Amor? Socorro? (Grito) Vaca velha, levanta essa bunda de lasanha do chão  e me responde?
RAIMUNDA - Espera, eu tive uma ideia.
Raimunda procura algo em volta, encontra uma panela, a mesma que desmaiou Socorro. Bate na cabeça desta. Socorro acorda, moribunda.
SOCORRO – Quem sou eu? Onde estou?
ASTROGILDO – Você se chama Alzira Sapatão e está aqui para nos servir/
SOCORRO – Para de mentir, seu michê de quinta. Eu sou Maria do Socorro e fui sequestrada por/
ROSLENE – Então por que perguntou, querida, se já sabia a resposta?
SOCORRO – Pra fazer charminho. Eu sempre tive um sonho: Perder a memória/
ROSLENE – Típico de você, sua ogra burra. Desde criança você é assim, exibida, aparecida.
SOCORRO – A é? Então eu digo: É típico de você ter feito isso, me sequestrado. Desde criança que você é uma sem caráter! Na escola monopolizava o banheiro feminino! Pra urinar tinha que pagar um real, pra cagar tinha que pagar dois reais. Saiu igualzinha a sua mãe, Tia Zorobabel!
RAIMUNDA – Chega de papo! Anda, Socorro, desembucha: Aonde está o diamante?
SOCORRO – Eu não digo nem que me paguem.
ASTROGILDO – Deve tá no peito dela! Deixa que eu pego!
SOCORRO – Claro que não, está no cofre da minha mansão! Caramba, dei mancada.
Todos a observam. Corta para:

Cena 06. Carro de Roslene. Interior, noite.
Roslene dirige, rápida. Socorro do seu lado, amarrada.
SOCORRO – Eu e minha maldita boca.
ROSLENE – Eu não vejo a hora de botar minhas mãos nesse diamante lindo.
SOCORRO – E eu não vejo a hora de meter a mão na sua cara, sua E.T. de varginha do Acre/
ROSLENE – Chegamos!
As duas descem do carro.

Cena 07. Mansão de Socorro. Interior, noite.
Socorro e Roslene entram, sobem as escadas. Chegam ao quarto de Socorro.
ROSLENE – Aonde fica o maldito cofre?
SOCORRO – Procure com seus olhos, sua vaca besta/
Roslene aponta a arma para Socorro.
ROSLENE – Como disse?
SOCORRO – Que eu vou tratar de te mostrar agora mesmo, Roslenita querida, do meu coração.
Socorro vai até um espelho que estava alojado na parede e o remove do lugar. Atrás dele vemos um cofre, em que Socorro digita alguns números e o abre. De lá tira o diamante cor de rosa.
SOCORRO – E agora?
ROSLENE – E agora voltaremos para o barraco. Vai!
As duas saem, Roslene apontando a arma para Socorro.

Cena 08. Casarão abandonado. Interior, dia.
Raimunda e Astrogildo se beijam em cima de um sofá velho. Chegam Socorro e Roslene.
SOCORRO e ROSLENE – Mas que merda é essa?
RAIMUNDA – Não me venha com lição de moral a essa altura da vida, querida. Anda, cadê nosso diamante?
Roslene tira o diamante do sutiã e põe em cima de uma mesa, perto do sofá.
ROSLENE – Está aqui!
SOCORRO – O que vocês pensam em fazer comigo depois que essa loucura toda acabar? Vão me matar?
ROSLENE – Claro que não. Bem que eu gostaria, mas não sei se devo. Enfim, depois que eu dar um dinheiro para esses dois vigaristas, eu vou voltar para o Acre e deixar você aí, rica. Você nem vai sentir falta desse diamante, Socorro.
Zorobabel entra, abruptamente.
ZOROBABEL – Adivinha quem veio para a festinha?
ASTROGILDO – (Assustado) Quem é você?
ZOROBABEL - Meu nome é Zorobabel Maria Fernandes de Órleans e Bragança, sou mãe dessa desnaturada chamada Roslene.
ROSLENE - (confusa) De Órleans e Bragança?
ZOROBABEL - Me casei ontem com Rafael Antônio de Órleans e Bragança, descendente da princesa Isabel. Sou a nova princesa desse país.
SOCORRO – Então é você mesma, titia?
ZOROBABEL – Claro que sim, e estou aqui para te ajudar.
ROSLENE – Eu não acredito que você voltou, e voltou para atrapalhar meus planos/
ZOROBABEL – Eu não te ensinei a te chamar de mãe não, filhota?
ROSLENE – Sabe que eu não lembro? Acho que não, você devia estar muito ocupada dando pra qualquer um que aparecesse. Aposto que você nem sabe quem é meu pai!
ZOROBABEL – Bem, não vamos entrar em detalhes, não é, filhoca? Garanto que Noé não lembra mais qual dos mais de mil animais de sua arca mijou no travesseiro.
ROSLENE – Também não me interessa. O que você tá fazendo aqui, hein? Esperando alguém te enrabar?
ZOROBABEL – Nossa, filhoxa, que modo de falar com a sua mãe. Eu moro aqui, sua bruta! Moro sim, a casa tá no meu nome. Eu andei sumida mas é aqui que eu moro, só resolvi aparecer pra pegar o diamante da Difuntina, minha finada e aberraçoada irmã/
ASTROGILDO – Ih, no meu diamante ninguém tasca a mão não, viu?
ZOROBABEL – Hum, oi negão, como é seu nome?
ASTROGILDO – Meu nome é Francisco Astrogildo das Chagas Motta Silva dos Anzóis, mas pode me chamar só de Astrogildo mesmo.
ZOROBABEL – Eu sou Zorobabel...
Zorobabel tira a blusa, mas uma tarja censura seus seios.
ZOROBABEL - ...E esses são meus dotes!
ROSLENE – Não disse que é uma (CENSURA) mesmo?
Raimunda confirma com a cabeça
ASTROGILDO – E não é que a coroa ainda tá em dia?
Astrogildo agarra Zorobabel, todos observam chocados.
ASTROGILDO – Quer ir no quarto um momentinho?
ZOROBABEL – Eu nunca nego fogo, meu canhão!
Os dois entram no quarto. Começa-se a ouvir gritos e gemidos.
RAIMUNDA – Gente, sua mãe é muito safada mesmo, hein? Pegou até o nosso negão!
ROSLENE – Isso aí é uma sem-vergonha mesmo. Se bobear meu pai é o Eike Batista, porque eu acho que até pra ele ela deu.
Astrogildo e Zorobabel saem. Ele fechando o zíper da calça e ela ajeitando a blusa.
ASTROGILDO – Acabo de comprovar que Sérgio Reis estava certo quando afirmou que panela velha é que faz comida boa.
RAIMUNDA – No caso você comeu não comeu a comida, e sim a panela. Ah, sabia que comer rápido faz mal?
ASTROGILDO – Nem vem que eu tô igado que isso aí é puro recalque, tá, Raimunda? Parece que ela ainda é virgem, sabia?
ROSLENE – Vamos parar com essa conversa, com essa palhaçada? Chega! Tô exausta, seus imbecis! O foco aqui é o diamante!
RAIMUNDA – E cadê esse bendito diamante?
Todos olham pra mesa onde ele estava. Nada. Depois olham pra Socorro que observa todos com uma cara de culpada.
SOCORRO – Que foi?
ASTROGILDO – Deve tá dentro da bolsa da Socorro! Ela deve ter aproveitado a confusão e roubado! Eu vou abrir!
ROSLENE – Nada disso, eu sou a parente mais próxima da Socorro, então eu abro a bolsa!
RAIMUNDA – Dá licença, que eu sou a empregada dela, então eu posso abrir.
ZOROBABEL – De jeito nenhum, eu sou a salvadora da Socorro e eu abro!
ROSLENE – Que safada que nada, velha safada! Você só surgiu aqui pra dar pro negão e/
RAIMUNDA – Ei! A Socorro tá fugindo!
Todos olham para a porta, de onde Socorro sai correndo. Todos seguem ela, que cai no chão e é cercada.
SOCORRO – (Correndo) Ninguém vai abrir cacete nenhum! Ah, vocês querem porque querem o meu diamante, né? Estão perdendo tempo, o meu diamante não tá na minha bolsa, tá no meu sutiã!
Todos olham para os seios de Socorro.
SOCORRO – Eu e a merda da minha boca! (Grita) Ninguém vai pegar!
Socorro levanta e volta a correr. Os outros a seguem novamente. Eles chegam a um beco mal iluminado e Socorro se sente acoada. Ela sobe em uma lata de lixo mas acaba tropeçando. O diamante voa para as mãos de Zorobabel, tenta fugir. Zorobabel quase derruba o diamante, e o coloca entre as pernas, mas ele cai. Astrogildo pula e consegue segurar, mas se distrai olhando a calcinha da mulher e Roslene pega o diamante. Raimunda fáz cócegas em Roslene, que solta o diamante. Raimunda pega o diamante e sai correndo, mas escorrega numa casca de banana e o diamante voa. Todos observam, ninguém consegue pegar e o diamante cai no chão, lançando para uma parede uma imagem: Difuntina. A imagem ganha movimento e vira um vídeo, enquanto o diamante continua caído no chão, lançando imagens a parede.
DIFUNTINA -  Se vocês estão vendo esse vídeo é porque eu morri e o diamante chegou as mãos de vocês. E para que minha imagem esteja sendo projetada em algum lugar, é necessário que tenham derrubado ele no chão. Se isso aconteceu, acredito que seja por conta da briga de vocês. Espero que estejam todos aí, inclusive Zorobabel, minha irmã.
Antes de tudo, uma revelação: O diamante não tem nenhum valor comercial/
TODOS – Mas que diabo?
DIFUNTINA – (Cont.)  Pois é feito do mais puro... PLÁSTICO! Sim. Seu diamante é de plástico, Socorro! Mas eu gastei uma fortuna para conseguir imprimir uma mensagem em vídeo dentro dele, que só seria exibida caso ele caísse no chão.
Acho que todos querem saber o motivo disso tudo, e estou apta a dizer: Quero unir minha família, mesmo que eu esteja morta. Depois de tantas décadas minha irmã Áurea, mãe de Socorro morreu, e Zorobabel cortou relações comigo. Eu e Roslene fomos para o Acre e nunca mais conversamos com Socorro. Tivemos nossos motivos, mas não nos falávamos a quase quinze anos.
Socorro, a fortuna que eu te falei é essa: A família. Apenas isso. A família é o maior tesouro que temos em nossas vidas.
Bom, cada minuto que eu falo aqui eu gasto um milhão de reais, pois essa tecnologia é realmente muito especial. Então, isso é um adeus.
Ah, eu amo vocês.
A imagem se apaga. Todos, exceto Raimunda, estão emocionados.
ROSLENE – Eu confesso que não esperava por isso.
SOCORRO – Muito menos eu.
ZOROBABEL – Eu não esperava nada.
ASTROGILDO – Então essa é a famosa Tia Difuntina?
RAIMUNDA – Será que ainda dá para vender o restante do diamante?
ROSLENE – Socorro, mãe... Nós precisamos conversar. Raimunda e Astrogildo, será que vocês podem dar uma licença?
RAIMUNDA – Claro, eu tô querendo cagar faz horas!
Astrogildo e Raimunda saem.
SOCORRO – Confesso que eu estou/
ROSLENE – Emocionada?
SOCORRO – Não, com sono. Mas finja que eu disse sim.
ROSLENE – Você me perdoa, Socorro?
SOCORRO – Por roubar meu diamante?
ROSLENE – Por tudo! Por todos esses anos, pela nossa infância, por tudo que eu te fiz! Me perdoa?
SOCORRO – E eu tenho outra opção?
ZOROBABEL – Tem! Dá na cara dela e rouba a grana dela/
Socorro e Roslene se abraçam. Alguns segundos, emoção a flor da pele.
ZOROBABEL – E eu? Ninguém me abraça?
Roslene, Socorro e Zorobabel se abraçam.
SOCORRO – (Grita) Raimunda? Astrogildo?
Astrogildo e Raimunda voltam ao beco.
SOCORRO – Bom, já que estão todos aqui... Eu preciso dizer uma coisa: Agora que tudo deu certo, as pazes foram feitas, quero convidar todos para morar na minha mansão. Enorme do jeito que é, não vem a calhar que eu fique sozinha.
RAIMUNDA e ASTROGILDO – Até eu?
SOCORRO – Meus queridos, eu não os chamei novamente aqui para nada, não é mesmo? Sim, até vocês! Quero novamente o que sempre quis: Uma família!
Todos se abraçam. Corta para:

Cena 09. Mansão de Socorro. Interior, noite.
Estamos na sala de jantar da mansão de Socorro. Todos [Astrogildo, Raimunda, Roslene, Socorro e Zorobabel] terminam de servir em uma farta mesa. A decoração do ambiente é natalina. Eles começam a cantar uma canção de ano novo.
SOCORRO - Adeus, ano velho!
ROSLENE - Feliz ano novo!
ASTROGILDO - Que tudo se realize!
RAIMUNDA - No ano que vai nascer!
ZOROBABEL - Muito dinheiro no bolso!
SOCORRO - Saúde pra dar e vender!
ROSLENE - Para os solteiros, sorte no amor!
ASTROGILDO - Nenhuma esperança perdida!
RAIMUNDA - Para os casados, nenhuma briga!
ZOROBABEL - Paz e sossego na vida!
Eles terminam de servir a mesa e se sentam, começam a comer. A câmera foca na mesa, todos como uma família, se servem, confraternizam. Vemos neles uma felicidade. A câmera vai se distanciando e surge a voz de Socorro, em off.
SOCORRO – (Off.) Bom, o final é o mais previsível de todos, conhecido desde os tempos da Carochinha: E todos viveram felizes para sempre...



Cena 10. Cemitério. Interior, dia.
Câmera surge em um cemitério, o que Difuntina foi enterrada. Surge a legenda: Cemitério onde Difuntina foi enterrada/Horas depois do enterro. Vemos um homem armado saindo do cemitério e arrumando as calças, é o ladrão que abusou de Socorro e Roslene. A câmera vai até o lugar onde o caixão de Difuntina foi enterrado e dá close na foto da mulher. Entra debaixo da terra, entra no caixão. Difuntina abre um olho.
SOCORRO – (Off, cont.) Bem, quase todos...
DIFUNTINA – (Acordando) Mas o que...? Era só a minha labirintite! (Grita) Socorro!
Corta para:

Cena 11. Mansão de Socorro. Exterior, noite.
Estamos do lado de fora da mansão de Socorro, luzes de natal. Todos os personagens (Astrogildo, Aeromoça, Difuntina, Geiza, Raimunda, Roslene, Socorro e Zorobabel) presentes. Começa-se a ouvir um instrumental de funk, todos começam a dançar. Todos os personagens começam a cantar o funk: ‘Quem nasceu piriga, nunca vai ser diva’.
A câmera vai se distanciando enquanto os personagens continuam dançando num ritmo alucinado. De repente, surge a legenda: Fim.

A imagem congela e torna-se um diamante, que por fim explode.

Episódio 8: Orações para Bobby

No Episódio Anterior...
Nancy (preocupada): O que houve?
Joy (chorando): Nancy sai daqui. (gritos) Pai! Paiiii...

Mary (curiosa): Robert? O que houve?
Robert (abalado): O Bobby se matou.

Reverendo Owens: A morte de um ente querido é sempre uma grande perda. Ainda mais quando se trata de uma pessoa tão jovem e cheia de vida.

Mary (atordoada): Mãe? A senhora acha que o Bobby se salvou?
Ophélia (impaciente): Olha Mary, eu não sei. Agora trate de se recompor.

David (estendendo a mão): Senhor e Senhora Griffith, eu sou o David. Eu era o namorado do Bobby.
Mary fixa seu olhar para David.

Mary: Quando o Bobby estava aqui em casa, sob o nosso controle ele estava bem. Mas foi só se mudar para Portland e alguém começou a encher a cabeça dele de coisas.
Jeanette: Isso não é verdade, tia Mary. O David gostava do Bobby. Alguém que nem ao menos conhecia o Bobby estava lá parado condenando e vocês deixaram.

Mary (chorando): Vocês não entendem. Eu não sei o que fazer. Preciso estar em paz com isso e não consigo.

Mary: A bíblia diz que a homossexualidade é um pecado punido com morte.
Whitsell: Também diz a mesma coisa sobre mulheres que não são mais virgens antes do casamento ou crianças que desobedecem os pais.
Mary: Não deveria ensinar esse tipo de coisa. Isso confunde mais a cabeça deles.
Whitsell: EU apenas lhes digo o que eu penso. Que Deus os ama do jeito que eles são.

...

Episódio – REDENÇÃO

Cena 01 – Igreja Metropolitana/Interior/Sacristia/Dia

O reverendo Whitsell estava organizando algumas coisas. Mary entra na sacristia.
Mary: Eu achei as passagens que o senhor me falou, é sobre apedrejar até a morte. Mas e quanto a Sodoma e Gomorra? Deus puniu o pecado da homossexualidade. Como consegue explicar isso?
Whitsell: Um bom dia para você também, Mary.
Mary (sem graça): Perdão. O que está fazendo.
Whitsell: Bazar. Gays também fazem caridade.
Mary: Bem, quanto a minha pergunta.
Whitsell: Estudiosos afirmam que o pecado que destruiu Sodoma e Gomorra foi a luxuria e a soberba, e não a homossexualidade. Rotularam como homossexualidade muitos anos depois de ter sido escrita.
Mary (irritada): Tem resposta pra tudo só pra justificar ser dessa maneira é isso?
Whitsell: Se tem para justificar se está errado. Acho que estamos em um impasse agora.
Mary: O senhor acha que está bom interpretar a bíblia da maneira que quiser?
Whitsell: Não. Claro que não. Mas a bíblia foi escrita e interpretada por homens mortais. E muitas interpretações são reflexos do tempo em que viviam.
Mary: Então sente-se a vontade para questiná-las? Porque eu acho que isso é blasfêmia.
Whitsell: Deus não faz perguntas por não se emocionar com nossas respostas. Eu acho que a fé cega é tão perigosa quanto o ateísmo.
Mary: Eu nunca questionei a minha fé. Eu nunca tive razão para isso.
Whitsell: Muitas vezes questionar ajuda a encontrar a fé profunda.
Uma breve pausa.
Whitsell: Mary. Já ouviu falar em PFLAG? É uma organização de pais e familiares de lésbicas e gays. Talvez eles ppudessem ajuda-la a ver que não está sozinha.
Mary (caminhando rumo a saída): Não. Acho que isso não é para mim.
Whitsell: Espere. Tem uma mulher, Bett Lambert. Você vai adorá-la. Ela tem um filho gay de uns 30 anos.
Mary: Não reverendo. Eu só tinha umas perguntas, não preciso de mais nada.
Whitsell (entregando um cartão): Caso mude de ideia.
Mary pega o cartão e sai.

Cena 02 – Casa dos Griffith/Sala/Noite

Mary estava limpando os móveis. Robert estava assistindo o jogo na televisão.
Mary (enquanto limpa): Ele estava certo sobre as passagens bíblicas. Então talvez ele também possa estar certo sobre as interpretações referente a homossexualidade.
Robert: É Mary. Talvez. Eu não estava tão interessado na interpretação velha da bíblia.
Mary: Eu só estou querendo dizer que isso significa que o Bobby está no céu.
Robert (impaciente): Ele não está aqui Mary. Isso não basta para você?
Mary: E isso basta para você?
Robert se levanta e sai.
Mary: Isso. Sai andando como você sempre faz.
Robert para e olha para Mary.
Robert: Então você quer dizer que se eu tivesse lidado com o Bobby ele ainda estaria vivo? É isso que você quer dizer? Responda Mary. É isso?
Mary fica em silêncio. Robert bate a mão na porta.
Robert (apontando o dedo para Mary): Escuta aqui Mary, o Bobby se foi e não há nada que possamos fazer por ele. Nada vai trazer ele de volta.
Mary (gritando e chorando): Eu sei disso. Você acha que eu não sei disso.
Robert sai e Mary senta no sofá, chorando.

Cena 03 – Casa dos Griffith/Sala/Dia

Som da campainha tocando. Mary atende.
Bett: Mary? Sou eu, Bett Lambert. Você me ligou.
Mary: AH, sim. Entre.

Cena 04 – Casa dos Griffith/Cozinha/Dia

Mary serve chá para Bett.
Bett: O reverend me disse que o seu filho se matou. Quando foi?
Mary: A seis meses atrás. Ele pulou de uma ponte.
Bett: Eu sinto muito. Deve ser horrível passar por isso.
Mary: E o seu filho? Quando descobriu que ele era homossexual?
Bett: Ele tinha 14 anos quando se abriu para nós.
Mary: Nossa. E não era muito novo?
Bett: Não exatamente. Eu já sabia bem antes disso acontecer. Nós mães sempre sabemos, não é verdade?
Mary: E como você reagiu quando soube?
Bett: Bem, no início eu levei um susto, mas depois aceitei. Acho que nenhum pai que escute “sou gay” vá dizer “Oh, que bom”.
Mary: Bobby era um bom menino.
Bett: Escuta Mary. Porque não assiste uma das reuniões da PFLAG. Você vai ficar estarrecida ao ver que não é a única família americana.
Mary: Não. Eu não sou muito boa em falar em público.
Bett: Então não fale. Apenas vá e escute. Tenho certeza que isso irá fazer você ver por outro lado.
Mary fica pensativa.

Cena 05 – Sala da PFLAG/Interior/Dia

Mary entra na sala. Bett a recebe.
Bett (cumprimentando ela): Que bom que veio.
Mary: EU não posso demorar muito.
Bett: Não tem problema. Sente-se em algum lugar ali.
Mary senta em uma cadeira. Era um círculo. Ela começa a ouvir os depoimentos.
Mulher 1: Meu filho era agredido constantemente na escola. Os outros colegas o chamava de bichinha. Quando fui falar com o diretor ele simplesmente não quis nem me ouvir.
Homem: Meu filho San, tinha 18 anos quando se assumiu para mim. E quando ele fez aniversario, me pediu uma camiseta rosa da Lacoste. Então eu o levei para caçar e quando vi um veado, para brincar com ele eu disse: corra bambi, corra. (todos riem) Eu sempre soube que poderia amar o meu San, mesmo ele sendo diferente.
Mulher 2: Bem, quando minha filha Gill se assumiu para mim, eu insisti para que ela procurasse um psiquiatra. Mas quando aquele homem sugeriu terapia de choque, eu olhei nos olhos da minha menina e pude ver a dor estampada neles. Então saimos de lá e fomos embora.
Whitsell entra na sala.
Bett: Reverendo? Que surpresa boa.
Whitsell: Olá pessoal.
Whitsell vê Mary e cumprimenta ela.
Bett: O reverendo Whitsell encaminhou um projeto para ser votado na câmara municipal.
Whitsell: O projeto visa dar aos gays e lésbicas, um dia, para comemorarem o orgulho de ser quem são. Será votado dentro de alguns dias, e conto com a presença de todos vocês.

Cena 06 – Casa dos Griffith/Sala/Tarde

Robert estava dormindo no sofá. Mary se aproxima e o acorda com um beijo. Ela abraça ele.

Cena 07 – Casa dos Griffith/Quarto de Mary/Noite

Mary acorda com o som de um trovão. Começa a chover. Ela levanta e começa a rasgar todos os bilhetinhos que ela havia feito para Bobby, sobre as passagens bíblicas.

Cena 08 – Igreja Metropolitana/Frente/Noite/Chuva

Whitsell chega e encontra Mary na chuva.
Whitsell (espantado): Mary? O que faz aqui? Está toda ensopada. Vamos entrar.

Cena 09 – Igreja Metropolitana/Interior/Noite/Chuva

Mary senta em um dos bancos e Whitsell fica de pé.
Mary: Eu não sabia para onde ir. Eu estava lá sentada ouvindo todas aquelas histórias de como eles sempre souberam que seus filhos eram diferentes. E então eu tive um sonho... Bobby era um bebê. Meu filho sempre foi diferente. A sua diferença começou na concepção. Eu sabia disso. Eu podia sentir. (Chorando) Agora sei por que Deus não curou Bobby... Não o curou porque não tinha nada de errado com ele... Eu fiz isso... Eu matei o meu filho.
Whitsell (abraçando Mary): Não diga isso. Você não matou ninguém. O Bobby se matou.
Mary: Como Deus vai me perdoar? Como Bobby vai me perdoar?
Reverendo: Deus já deu o seu perdão. Agora você tem que se perdoar.
Mary: Eu sinto tanto. Eu sinto tanto.

Cena 10 – Cemitério/Dia
Mary estava no túmulo de Bobby. Ela coloca um ramalhete de flores sobre o túmulo.
Mary: Querido Deus, dê-nos algo com que possamos viver, e transmita aos outros, cujas vidas nunca serão as mesmas por causa da morte de entes queridos. Eu não decidi ter olhos castanhos, e agora compreendo que Bobby não decidiu ser gay. Se Tu dizes nas tuas palavras que é maligno e satânico nascer sem braços, e uma criança nasce sem braços, o que essa criança vai pensar?

Cena 11 – Câmara Mucipal de Wanult Creeck/Frente/Dia

Mary encontra Bett na frente. Haviam várias pessoas apoiando e outras sendo contra o projeto do reverendo Whitsell. Elas dão as mãos e entram na câmara.

Cena 12 – Câmara Municipal de Wanult Creeck/Interior/Dia

A seção havia começado. As bancadas estavam compostas por padres, religiosos e defensores da PFLAG.
Presidente: Nossa primeira pauta de hoje é um projeto do reverendo Whitsell sobre um dia de liberdade gay em Wanult Creeck. Começamos ouvindo o reverendo Whitsell.
Whitsell: Para um dia. Um dia para que as pessoas comemorem suas diferenças antes de sentirem pena.
As bancadas se manifestam.
Homem: Isso é uma pouca vergonha.
Mulher: Existem tantas pessoas precisando de nossa ajuda e nossa atenção, porque estamos desperdiçando com isso?
Presidente: Tudo bem vamos fazer ordem aqui, por favor.
Reverendo Owens: Eles cospem no rosto da decência e da moralidade. Não podemos permitir que a fábrica da nossa sociedade seja separada a força.
Mary fica apenas ouvindo.
Presidente: Então, a menos que alguém tenha algo a acrescentar iremos terminar a seção.
Mary se levanta e se dirige à bancada para falar.
Mary: A homossexualidade é um pecado.
Algumas Pessoas: É. Isso mesmo.
Mary: Os homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno.
Algumas Pessoas: Isso.
Mary: Se eles quisessem poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação poderiam ser normais de novo. Se ao menos eles tentassem e tentassem de novo. Estas foram as coisas que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay. Quando ele disse que era homossexual, meu mundo desmoronou. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses atrás, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo profundamente da minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Vejo que tudo que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram. Se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu seu coração para mim, talvez eu não estivesse aqui hoje com vocês, cheia de arrependimento. Eu acredito que Deus está contente com o espírito gentil e amável do Bobby. Aos olhos de Deus, gentileza e amor são tudo que importa. Eu não sabia que, cada vez que eu ecoava a condenação eterna aos gays cada vez que eu me referia ao meu Bobby como doente e pervertido, e perigoso às nossas crianças a sua autoestima e os seus valores estavam sendo destruídos. E finalmente, seu espírito se quebrou para além de qualquer conserto. Não era o desejo de Deus que Bobby se debruçasse sobre o muro de uma ponte, e pulasse diretamente na frente de um caminhão de 18 rodas que o matou instantaneamente. A morte de Bobby foi o resultado direito da ignorância e do medo dos seus pais quanto a palavra gay. Ele queria ser escritor. Suas esperanças e sonhos não deviam ter sido tirados dele, mas foram. Há crianças, como o Bobby, sentadas nas suas congregações, desconhecidas de vocês, elas estarão escutando, enquanto vocês ecoam "Amém". E isso, de pressa, silenciará as suas preces. As suas preces à Deus, por compreensão, e aceitação, e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio, e medo, e ignorância da palavra "gay", irão silenciar essas preces. Por isso, antes de ecoarem "Amém", em sua casa ou local de adoração, pensem e lembrem, uma criança está ouvindo.
A grande maioria aplaude Mary.
Whitsell: Mito bom, Mary.

Cena 13 – Casa dos Griffith/Sala/Dia

Mary entra e é ovacionada pelos filhos e por Robert.
Joy: Você foi incrível, mãe.
Nancy: A gente viu você pela tv.
Mary: Nós perdemos.
Robert: Mas ano que vem tentamos de novo... Você tem certeza de que quer ir para São Francisco?
Mary: Sim. Eu acho que não tenho escolha.

Cena 14 – São Francisco/Califórnia/Cidade

Imagens da cidade. Ponte. Prédios.

Cena 15 – Sâo Francisco/Rua/Parada Gay

Mary, Robert, Joy, Ed e Nancy chegam na parada e encontram Bett.
Mary: Estou atrasada?
Bett: Não. Chegaram bem na hora. Venham, eu tenho um lugar especial para vocês.
Os Griffith desfilam segurando a bandeira da PFLAG, juntamente com Whitsell e Bett.

Mensagem de Mary Griffith: A todos os Bobbies e Janes por aí... Digo a vocês estas palavras, como as diria aos meus preciosos filhos. Por favor, não desistam da vida, nem de vocês. Vocês são muito especiais para mim. Estou trabalhando muito para fazer deste mundo um lugar melhor e mais seguro para vocês viverem. Prometam-me que vão continuar tentando. O Bobby desistiu do amor. Espero que vocês não o façam. Vocês estarão sempre no meu coração.

Enquanto desfila, Mary vê um garoto que o faz lembrar de Bobby. Ela se afasta dos demais e caminha até o garoto, dando um abraço nele.

Mensagem do diário de Bobby Griffith: Meu nome é Bobby Griffith. Escrevo isto na esperança de que um dia, daqui a muitos anos, eu possa ser capaz de voltar, e me lembrar de como era a minha vida quando eu era um jovem adolescente confuso, tentando desesperadamente me compreender no mundo em que vivia. Outra razão pela qual escrevo isso é para que muitos, após a minha morte, possam ter a chance de ler ao meu respeito e ver como foi a minha vida enquanto jovem.

Mary larga do garoto e volta para junto de sua família.

Dedicado a Memória de BOBBY GRIFFITH e LEROY AARONS
Crédito: LIFITIME


FIM