sábado, 20 de dezembro de 2014

Episódio 1: Espírito do Natal

Márcia andava pela casa atrás do filho Guilherme, um menino de oito anos que sempre era muito feliz e ativo. Guilherme brincava com a irmã mais nova, Gabriela, que ela chamava carinhosamente de Gabi. As crianças brincavam de ''pique pega'' pela casa, enquanto Márcia procurava o filho porque ele deveria fazer a lição de casa da escola. O menino era dedicado aos estudos, porém muitas vezes priorizava as brincadeiras com a irmã mais nova. Depois de tanto correr, finalmente Márcia conseguiu encontrar o filho.
- Guilherme, vamos fazer a lição de casa?! - disse a mãe.
- Ah, deixa pra depois, mãe. Eu tô brincando com a Gabi.
- Filho, você precisa fazer a lição.
- Mas, mãe, amanhã é sábado.
- Filho, vamos fazer logo a lição para brincar no fim de semana.
- Ah, mãe. Não quero fazer dever hoje!
- Você vai fazer sim.
- Deixa eu brincar só mais um pouquinho.
- Está bem, então. Mas só um pouco.
Como sempre, Márcia acabou cedendo aos pedidos do filho. Observando a cena de longe, Célia, a empregada e grande amiga pessoal de Márcia, comentou com amiga:
- Márcia, você acaba aceitando tudo. Parece que eles mandam em você.
- Célia, eles são crianças ainda.
- Mas por que você acaba cedendo a tudo?
- Eu acho que cedendo a várias coisas é uma forma de recompensar a ausência do pai deles. Eu me sinto culpada por eles não terem um pai presente.
- Claro que a culpa não é sua. A culpa é do Leandro, que é um irresponsável que foi se envolver no mundo das drogas.
- Célia, eu me sinto culpada por ter me casado com ele.
- Mas você não sabia que ele era drogado!
- Eu não consigo explicar isso direito, mas o sentimento de culpa sempre está comigo.
- Larga isso, amiga. Como diz aquela música, ''levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima''.
- Eu estou mais para aquela música ''desilusão, dança eu , dança você na dança da solidão''.
- Não fale mentiras! Você nunca estará na solidão. E a minha amizade?
- É modo de dizer. Estou na solidão no amor.
- Você não sente nada mais pelo Leandro?
- Não tem como eu sentir nada por aquele canalha. Ele nos largou para ficar vivendo de droga e vendendo muamba por aí.
- Isso é verdade.
- Agora eu vou lá chamar o Guilherme para fazer a lição de casa.
- Está bem.
Márcia vai ao quarto de Guilherme e encontra o filho no banheiro com intenso sangramento pelo nariz.
- O que houve, Guilherme?
- O meu nariz tá sangrando.
- Como isso aconteceu?
- Não sei, foi do nada.
- Você não bateu com o nariz em nada ,não?
- Não.
- Tá. Então vira a cabeça pra cima, acho que assim melhora.
Guilherme segue as recomendações da mãe e o sangramento para. Depois daquele momento, Márcia leva o filho para fazer a lição de casa. Durante a lição, o menino queixa-se de dores.
- Mãe, meu joelho tá doendo muito.
- Meu Deus, Guilherme, você está impossível hoje. Não adianta inventar desculpas para fugir da lição de casa.
- É sério, mãe. Tá doendo! - reclama o menino, com voz trêmula.
- Você deve ter batido durante a brincadeira com sua irmã. Já sei: da próxima vez, vocês vão brincar sentados de vídeo game.
- Mãe, tá doendo.
- Sossega, filho, e vamos fazer o dever!
- Não dá!
- Então vamos botar um pouco de gelo.
Márcia vai à cozinha pegar gelo.
- O que houve? - perguntou Célia.
- Guilherme tá reclamando de uma dor no joelho.
- Ele tá fugindo dessa lição de casa. - diz Célia, rindo.
- Também achei, mas ele continuou reclamando muito.
- Não é melhor levá-lo num pediatra?
- Vou ligar para a doutora Carla hoje mesmo, mas agora vou levar o gelo para ele.
Márcia saiu da cozinha que estava toda limpa e levou o gelo para o filho.
- Mãe, tá muito gelado! - exclamou o menino.
- E existe gelo quente?
- Põe no fogo.
- Vai derreter, meu filho. Agora fica quieto e continua a fazer o seu dever.
- Ah, não. - fala Guilherme, desanimado.
- Vamos, filho! - incentivou Márcia.
Enquanto Guilherme fazia a lição de casa, Márcia aproveitou para ligar para a médica do filho, mas ela não atendia.
- Márcia, ela não atende não? - perguntou Célia.
- Não.
- Ah, quase me esqueci! Leandro ligou. Ele quer sair com as crianças.
- Tá. Ele disse quando?
- Não acredito que você vai permitir uma coisa dessas.
- O juiz ordenou isso. Ele tem direito a essas visitas, mas devem ser aqui perto.
- Eu nunca deixaria.
- Também não, mas se eu não deixar, é capaz dele ficar com a guarda, e isso é o que eu menos quero.
- Concordo.
- Então, eu vou ligar para ele.
- Ele deixou o novo  número dele aqui. - disse Célia, enquanto entregava para Márcia um papel pequeno com o número de Leandro.
- Tá, valeu, Célia.
Márcia pega seu telefone novamente e liga para o pai de seus filhos, Leandro.
- Leandro?
- Eu. É você, Marcinha?
- Para você, é só Márcia mesmo.
- Tá. Não esperava você me ligar.
- Por quê?
- Você quase sempre manda Guilherme e Gabi falarem por você.
- Mas é porque a Célia me avisou do seu recado.
- Que bom. Pelo menos essa velha serve pra alguma coisa.
- Menos, Leandro. Ela é minha amiga e de confiança. Não venha falar mal dela!
- Tá. Mas continuando... eu quero sair com eles amanhã.
- Amanhã? É dia 24!
- Sim. Eu tenho meus direitos.
- Eu sei disso. É porque o Guilherme sangrou o nariz e o joelho dele tá doendo muito.
- Para de desculpa esfarrapada.
- Não é desculpa esfarrapada! Pode ser sério.
- Você tem que ensinar ele a encarar elas dores bobinhas como homem.
- Mas pode ser algo muito mais sério!
- Claro que não é. Para com essa frescura. Arruma eles, porque amanhã de manhã passarei aí para buscá-los.
- Aonde você vai levá-los?
- Um passeio pela cidade, zoológico, shopping... coisas de criança.
- Ok.
- Tchau, Marcinha. - provocou Leandro.
- Até amanhã, Leandro.
Márcia desligou o telefone e comentou com Célia:
- Ele vai passar aqui amanhã de manhã!
- Mas e o Guilherme? Como ele vai desse jeito?
- Leandro não tá nem aí pra isso.
- Então não deixa ele ir, só Gabi vai.
- Se eu fizer isso, Leandro é capaz de entrar aqui e levar Guilherme na força, na marra.
- Não sei como esse juiz deixou ele sair com as crianças.
- O juiz disse que o Leandro estava melhorando.
- Esse homem só podia estar maluco.
- Pois é...
Márcia voltou para a sala.
- Mãe, já fiz toda a lição. - disse Guilherme.
- Que bom. E o joelho?
- Tá mais ou menos.
- Você tava falando com quem no telefone? Era o papai?
- Sim,era o Leandro.
- O que ele queria?
- Sair com vocês.
- Quando?
- Amanhã de manhã.
- Gabi, papai vai sair com a gente amanhã de manhã! - gritou Guilherme.
- Ebaa!!! - gritou Gabi.
- Mas vocês devem se comportar. Agora, vocês podem ver um pouco de TV.
- Tá bom. - disseram as crianças.
O dia passou rapidamente e a manhã do dia 24 de dezembro chegou ligeiramente. Guilherme e Gabi acordaram felizes e ansiosos. Com a ajuda de Célia, Márcia arrumou seus filhos, e uma hora depois, por volta das oito da manhã, Leandro chegou à casa onde os filhos moravam. As crianças e Márcia foram para o portão.
- Vê se cuida deles! - disse Márcia.
- Claro! - respondeu Leandro.
- E o Guilherme? Melhorou?
- Mais ou menos. É bom ficar de olho.
- Tá.
- Vocês voltam que horas? Hoje é dia de ceia!
- Antes das cinco da tarde.
- Está bem.
- Tchau, se não vamos perder  a manhã inteira.
As crianças se despediram da mãe e logo entraram no carro de Leandro.  Dentro do carro, o clima estava ótimo entre o pai e as crianças. Passadas algumas horas, Célia, na casa de Márcia, assistia a um programa de TV sobre saúde que estava falando sobre a leucemia.
- Os principais sintomas são sangramentos pelo nariz, gengivas ou menstruações muito intensas, sem motivos aparentes. Também podem acontecer dores nas articulações e nos ossos, inflamação e aumento dos nódulos linfáticos, dentre outros. - destacava um especialista, na TV.
Célia ficou muito preocupada porque no dia anterior, Guilherme chegou a apresentar dois desses sintomas. Desesperada, a empregada e amiga de Márcia, chamou-a e ela logo foi à sala da casa.
- O que houve, Célia?
- Na TV.
- O quê?
- No programa de saúde.
- O que houve?
- Falaram da leucemia e os sintomas.
- Que bom. Devemos ficar atentos aos sintomas dessas doenças.
- O Guilherme.
- O que tem ele?
- Ele teve dois sintomas.
- Como assim?
- O sangramento e a dor no joelho.
- Meu Deus! Não quero nem pensar nisso.
- Pode ser leucemia, Márcia.
- Não posso acreditar nisso. Preciso falar com o Guilherme.
- Vai falar o que para ele? Que ele tem uma doença que mata?!
- Não. Para saber como ele está.
- Tá. Vou ligar para ele e te passo o telefone.
Célia logo ligou para Leandro e ele atendeu:
- Quem é?
- Oi, Leandro. É Célia. A Márcia quer falar rapidinho com o Gui. Passa para ele por favor.
- Tá.
Célia passou o telefone para Márcia, e Leandro, para Guilherme.
- Oi mãe.
- Oi Gui.
- A gente tá passeando.
- Filho, e o sangue no nariz e a dor do joelho? Voltaram?
- Não. Por quê?
- Nada. Deixa eu falar com o seu pai.
- Ele tá dirigindo. Tem policial aqui na estrada agora. Não dá para ele falar.
- Estrada? Qual estrada?
- Não sei o nome. É alguma BR. Não tem nada aqui perto, só mato.
- Já saíram dos policiais?
- Agora sim.
- Então passa pro seu pai.
Guilherme logo passou o telefone para o pai.
- Você tá louco de levar seus filhos pra fora da cidade? Muito mais com o Guilherme com sintomas de leucemia. - disse Márcia brava e desesperada.
- Leucemia? Como assim?

Leandro desesperou-se com a notícia que recebeu e assim, perdeu o controle do carro e não percebeu que foi para a pista errada, sendo assim acertado por um caminhão que estava em altíssima velocidade.

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