sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Episódio 1: Orações para Bobby

Introdução
  
    1983 – Portland/ Walnut Creek

   A história começa com um contraponto de duas cenas, em cidades diferentes.
   Bobby caminha lentamente sobre um viaduto, na cidade de Portland, EUA. Enquanto isso, em Walnut Creek, Califórnia, sua mãe, Mary, estava praticando seu hobby predileto, a costura, dentro de sua salinha, decorada com imagens religiosas e fotos de sua família.
   O semblante de Bobby carregava uma tristeza. Seu olhar desacreditado mirava fixamente os carros que passavam por baixo do viaduto. Ele para e coloca suas mãos sobre a proteção do parapeito do viaduto e fecha os olhos.
   Mary desliga sua máquina de costura e apaga a luz da sala...

    1979 - Walnut Creek, Califórnia

Cena 1 – Casa dos Griffith/Quintal
Era aniversário de Ophélia, mãe de Mary e avó de Bobby, Joy, Ed e Nancy. A família Griffith estava se divertindo. Robert, marido de Mary, estava filmando todos. Bobby estava com sua namorada, Michelle.

Cena 2 – Casa dos Griffith/Quintal
Bobby e Michelle caem sobre a grama e Mary se aproxima deles.
Mary: Muito bem. Já chega vocês dois.
Bobby e Michelle se levantam. Michelle se afasta.
Bobby: Eu gosto dela.
Mary: E eu acho que ela gosta de você também.
Bobby: Será?
Mary (apertando as bochechas de Bobby): E você ainda duvida seu bobinho?
Bobby abre um sorriso.

Cena 3 – Casa dos Griffith/Quintal
Joy e Michelle estavam sentadas em volta de uma mesa.
Joy (sorrindo): Você e o Bobby formam um lindo casal.
Michelle (olhando para Bobby): Ele é um fofo.
Joy (olhando para Bobby): Eu nunca tinha visto ele tão feliz. Você está fazendo muito bem para ele.
Michelle: Realmente estamos muito felizes.
Michelle e Joy se dão as mãos. Robert se aproxima.
Robert: Muito bem, meninas. Está na hora de cantarmos os parabéns e entregarmos os presentes de sua avó.
Joy (levantando): Vamos lá.

Cena 4 – Casa dos Griffith/Sala
Michelle, Bobby, Joy, Ed e Robert estavam sentados no sofá. Ophélia estava sentada em uma poltrona. Nancy estava sentada no chão, em frente a Bobby. Mary aparece trazendo um bolo com uma velinha acesa.
Todos (cantando): Parabéns, pra você...
Mary (Ophélia assopra a velinha): Muito bem.
Mary coloca o bolo sobre a mesinha, onde estavam os presentes. Mary se senta em uma poltrana.
Mary: Está um lindo dia... Está um lindo dia e quero ver quem conhece essa: “Porém os que te amam brilham como o sol quando se levanta no seu esplendor”.
Joy: Coríntios!
Bobby: Juízes 5:31.
Ophélia abre um dos presentes. Era uma blusa.
Ophélia: Mas o que é isto?
Mary: Lembra mamãe? Estávamos andando no shopping quando você viu e gostou. Então eu voltei lá depois e comprei para a senhora.
Ophélia: Ah, sim. Nancy, querida, pegue a minha bolsa, por favor.
Nancy (levantando): Porque é sempre eu que tenho que pegar a bolsa?
Joy: É um ritual.
Bobby: A mais nova dos Griffith é a mula da bolsa.
Nancy pega a bolsa.
Nancy: Porque não pede para outra pessoa pegar.
Ed (levantando e fazendo uma voz afeminada): Tá bom, tá legal.
Ed pega a bolsa de Nancy e coloca em seu ombro, desfilando pela sala, rebolando e fazendo gestos afeminados.
Ed (fazendo uma voz afeminada): Gostaram da minha bolsa? Vovó é um espojinho lindo de batom.
Mary: Ed?
Ed (fazendo uma voz afeminada): O que foi mamãe?
Mary: Isso é nojento!
Bobby fica tenso.
Ophélia: Para mim, os bichas deveriam ser postos em fila e fuzilados.
Bobby olha espantado para Ophélia.
Joy (entusiasmada): Abre o meu vovó.
Ophélia pega o presente de Joy e abre.
Ophélia: O que é isso?
Joy (sorrindo): É um diário.
Ophélia: Mas eu não preciso mais dessas coisas.
Joy fica chateada e se retira da sala.
Mary: Mamãe?
Ophélia: Mas o que foi?
Bobby pega o diário e vai atrás de Joy.

Cena 5 – Casa dos Griffith/Quarto de Joy e Nancy
Joy estava sentada em sua cama, encostada na parede. Bobby entra, segurando o diário.
Bobby (sentando ao lado de Joy): Com licença.
Joy estava chorando.
Bobby: Não fica triste. É a vovó. Sabe que ela é séria na maioria do tempo mais depois temos espaço para brincar ela.
Joy (enxugando os olhos): Bobby, ela me irrita. Ninguém irrita você, porque você é perfeito.
Bobby: Perfeito? Você acha que eu sou perfeito? Já se olhou no espelho? Você é a próxima Miss América. Posso ficar com o diário?
Joy: Você não vai querer isso.
Bobby: Claro que vou. Aposto que consigo encher ele em uma semana. Agora vamos voltar para sala e comemorar o trigésimo nono aniversário de 39 anos da vovó.
Bobby e Joy se levantam e saem do quarto.

Cena 6 – Casa dos Griffith/Quintal
Michelle estava observando além dos muros. Bobby chega e a surpreende com um beijo no rosto.
Bobby: Bobby? Você me assustou.
Bobby: Me desculpe.
Michelle (sorridente): Vou pensar no seu casso.
Bobby (mostrando uma flor): Toma. É para você.
Michelle (pegando a flor): Que lindo. Você é um amor, Bobby.
Bobby sorri.

Cena 7 – Casa dos Griffith/Cozinha
Mary estava enxugando a pia, enquanto observava Bobby e Michelle, através da janela. Robert aparece.
Robert (segurando na cintura de Mary e beijando o rosto dela): Tudo em ordem por aqui?
Mary: Sim.  Eu já terminei.
Robert: Bobby parece muito empolgado com essa garota.
Mary: Michelle me pareceu a garota ideal para ele. Isso é saudável.
Robert (tom de brincadeira): Quero ouvir você dizer isso quando tiver uma criancinha correndo atrás de você e lhe chamando de vovó.
Mary: Ah, Robert. Não exagera. Os garotos sabem muito bem as restrições desta casa. Nada de filhos antes de se casarem.
Robert: Mary, os tempos mudaram. Hoje em dia os jovens não pensam mais em celibato.
Mary: Mas Bobby e Ed sabem perfeitamente as regras. Seguimos as palavras do senhor conforme descritas na bíblia.
Robert: Está certa. Não vamos tornar isso uma discussão religiosa.
Robert beija no rosto de Mary e se retira. Mary volta a observar Bobby e Michelle.

Cena 8 – Casa dos Griffith/Sala
Michelle estava se despedindo da família de Bobby.
Michelle: Senhor e Senhora Griffith. Foi um prazer conhecer vocês.
Mary: Você também é encantadora. Apareça mais vezes.
Michelle: Pode deixar.
Bobby abre a porta.
Mary: Toma cuidado, filho.
Bobby: Pode deixar mãe. Já estarei de volta.

Cena 9 – Casa de Michelle/Frente/Dentro do carro de Bobby
Bobby desliga o carro.
Bobby (olhando para Michelle): Pronto. Chegamos.
Michelle beija ele. Um beijo intenso.
Michelle: Bobby, eu estou pronta.
Bobby (surpreso): O quê? Como assim?
Michelle: Ah, você sabe. Eu quero ir mais longe.
Bobby (assustado): Eu não sei.
Michelle (confusa): O que foi? Fiz algo de errado?
Bobby (nervoso): Não... Olha não é com você... é comigo.
Michelle: Eu achei que você quisesse. Eu conheci a sua família.
Bobby: Eu só não quero algo sério...
Michelle: Então não precisa ser sério, tá legal?
Bobby: Me desculpa, Michelle. Eu não posso. Acho que deveríamos dar um tempo.
Michelle sai do carro, brava, batendo a porta com força.

Cena 10 – Rua/Frente a boate Armore
Bobby para o carro e observa dois homens conversando do lado de fora de uma bar gay. Um dos homens entra na boate. O outro percebe que Bobby está olhando e chama ele para vir ao seu encontro. Bobby liga o carro e vai embora.

Cena 11 – Casa dos Griffith/Sala
Mary estava sentada no sofá, comendo pipoca e assistindo um filme. Bobby chega.
Mary: Oi, filho. Quer assistir um filme comigo?
Bobby (indo até Mary): Não, mãe. Estou cansado.
Mary (Bobby sentando ao seu lado): Ah, filho. Com quem mais vou assistir filme em preto e branco. Você sabe que se não for o do John Wayne, o seu pai não gosta. Quer pipoca?
Bobby (pegando pipoca na tigela): Aceito.
Mary: Deixou a Michelle em casa?
Bobby: Sim. Está vendo essa cena? Ela é muito famosa. Sabe como eles fizeram ela?
Mary: Não. Como?
Bobby (apontando para a TV): Hitchcock colocou uma lâmpada acesa dentro do copo de leite. Assim o pessoal sabia que o leite estava envenenado.
Mary: Nossa, que brilhante. E como você sabe disso?
Bobby: Porque eu sou brilhante.
Mary (jogando pipoca nele): Seu convencido.
Bobby: Quero mais pipoca.
Mary (entregando a tigela para ele): Pode ficar com tudo. Eu já comi demais.

Cena 12 – Casa dos Griffith/Quarto de Bobby e Ed
Bobby entra no quarto. Ed estava dormindo. Bobby retira os sapatos e senta com as pernas dobradas sobre a cama. Ele pega seu diário e começa a escrever...
“Eu sou mau e perverso. Eu quero cuspir vulgaridades em todo mundo que eu vejo. Eu sou a sujeira, bactérias nocivas crescem dentro de mim... Eu era inocente, confiando, amando. O mundo me violentou até minhas entranhas estão rasgando e sangrando. Minha voz é pequena e inaudível, despercebido. Maldito. O tempo da primavera Gentil me rodeia, mas uma tempestade implacável feroz se trava dentro ... Quanto tempo mais? Quanto mais eu posso tomar? Só o tempo e um milhão de lágrimas de amargura ... Eu desejo que eu pudesse rastejar embaixo de uma pedra e dormir pelo resto da vida”. (Bobby Griffith)









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