Cena 01. Quarto de Difuntina. Interior,
noite.
Socorro
entra em silêncio no enorme quarto. As luzes estão apagadas. Difuntina parece
dormir. Quando Socorro parece sair, a mulher acorda.
DIFUNTINA
-
Socorro... Se aproxime, minha sobrinha.
SOCORRO
-
Titia... Eu acho que já é tarde demais/
DIFUNTINA
- Se
aproxima logo, mocoronga. Quero falar com você.
SOCORRO
- Deve
ser. Acho que não me chamaria aqui a toa.
DIFUNTINA
- Pra te
ver sofrer sim.
SOCORRO
- Velha
demoníaca! Bruxa, velha/
DIFUNTINA
-
Socorro, eu sei que nós nunca nos demos muito bem, mas... Eu tenho uma coisa
para te entregar. Ali no armário. Pegue.
Socorro
abre o armário e tira de lá uma caixa preta. Leva até a idosa. Nesse momento
Roslene abre uma fresta da porta e começa a ouvir tudo, atenta.
DIFUNTINA
- (Ela
abre. Um diamante rosa brilhante) É... É sua herança! Estou deixando para você!
O diamante mais raro e valioso do planeta... (t) Fragile!
Continuação.
CAM foca na expressão de choque de
Socorro e de Roslene.
SOCORRO - Como...?
DIFUNTINA - Minha
sobrinha, você sabe que eu sou muito rica. Meus amantes sempre me cobriram de
presentes e dinheiro. No meu último casamento eu herdei uma grande fortuna.
SOCORRO - Até
faz sentido o apelido da senhora ser 'Garganta de veludo'...
DIFUNTINA - Como
eu ia dizendo: Esse diamante é avaliado, atualmente, em cinco milhões de reais.
Porém, quero que saiba que, para mim, tem enorme valor sentimental. Estive
pensando, durante um longo tempo, pra quem o deixaria/
SOCORRO - E
por que a senhora não o deu para Roslene?
DIFUNTINA - Eu
até considerei em dar o diamante para a Roslene...
Roslene comemora silenciosa na porta.
DIFUNTINA - (Cont.)
Mas eu percebi que ela é uma pessoa ambiciosa, dinheirista...
Roslene faz um expressão de choque.
Socorro anda pelo quarto, se vira de costas para Difuntina e começa a falar.
CAM foca em seu rosto, Difuntina sai de foco.
SOCORRO - Mas
por que você está me dando isso hoje? Que eu sei você pode morrer amanhã ou...
Ou não morrer!
Socorro se vira e vê que Difuntina está
inconsciente.
SOCORRO - (Pega
o diamante, coloca no bolso e olha em volta. Grita) A
tia Difuntina virou defunta! Faleceu, virou presunto!
Roslene abre a porta e corre até a cama.
SOCORRO - Então
quer dizer que você estava ouvindo nossa conversa, jararaca?
ROSLENE - Não
é da sua conta, sua capiau... (Gritando) O que você fez com a minha tia?
SOCORRO - Sua
tia uma pinóia, NOSSA tia! E eu não fiz nada, a velha desencarnou!
Difuntina começa a tossir e abre os
olhos.
SOCORRO - Mas
você não tinha morrido, velhota?
ROSLENE - Titiaaaaaa!
Eu pensei que você estava morta!
DIFUNTINA - Podem
ficar tranquilas, suas urubus fêmeas fedendo a carniça. Vai demorar muito pra
eu morrer, viu? Ou não. Mas o que importa é que hoje eu estou viva e/
Socorro e Roslene pulam em cima da senhora
e começam a beija-la loucamente. Difuntina contorce a mão, aparentemente sem
ar. Quando as duas se levantam, a senhora está imóvel e com os olhos abertos.
SOCORRO e DIFUNTINA - (Juntas)
Ela morreu!
DIFUNTINA - (Abrindo
um olho) Morri não, desgraçadas. Foi apenas a minha labirintite.
SOCORRO
- Pelo amor de deus, essa mulher está tirando
sarro da minha cara!
ROSLENE
- Da minha também! Te amo tia, mas ou vive ou
morre. Se decida.
DIFUNTINA
- Vocês querem se ver livres de mim... Vai
demorar, e muito, pra eu morrer/
SOCORRO
e ROSLENE - (Juntas)
Mas vai!
Roslene
e Socorro pegam um travesseiro e começam a sufocar a idosa. Depois de um tempo,
tiram. Difuntina está morta.
SOCORRO
- Titia morreu sublime, sem sofrer.
ROSLENE
- Há de se analisar que morreu feito um anjo,
nem sofreu.
Corta
para:
Cena
02. Cemitério. Exterior, dia.
Estamos
em um cemitério a céu aberto. Várias pessoas ajudam a carregar um caixão. Todos
de preto. Roslene e Socorro andam na frente, ao lado de um homem que veste uma
rouca de padre.
SOCORRO
- (Baixo) Graças a deus essa velha... Velho...
Que seja... Graças a deus morreu! Agora ficarei rica!
ROSLENE
- O que você falou, sua cretina? Eu vou
anunciar a deus e o mundo que você agradeceu a deus pela morte de titia!
SOCORRO
- Não fale fatalidades, sua pobre idiota!
(Sussurrando) Você me ajudou a sufocar a velha! E você nunca gostou dessa
aberração!
ROSLENE
- (Gritando) Escutem todos: A Socorro é uma
desgraçada! Ela está feliz pela morte da minha tia!
Todos
param em frente a um buraco aberto no chão, onde o caixão será jogado. Roslene
começa a chorar e todos prestam atenção nas duas.
SOCORRO
- Isso é uma blasfêmia! Eu amava a titia!
(Drama, chorando) Eu não vou aguentar viver sem ela! (Se joga em cima do
caixão, que cai) Me enterra, me leva junto! Eu não vou conseguir ficar longe da
minha velhinha/
Uma
mulher de óculos se envolve na conversa. Até então ela estava calada.
MULHER
- Mas que teatrinho fuleiro esse, hein! Ninguém
gostava desse ser ridículo!
SOCORRO
- (Confusa) Escuta aqui, mas é você, hein? Se
nunca gostou da titia por que está aqui?
MULHER
- (Entrega um cartão) Sou Geiza, conselheira
sentimental e faço figuração em enterro, prazer em conhecer. Sua tia me
contratou pra chorar aqui... Aliás (Entrega cartões para todos os presentes) se
precisarem do meu serviço podem ligar. Também atuo como macumbeira e trago o
amor amado em/
ROSLENE
- Chega, sua aberração! (Debochando) Geiza...
Mas que nome mais ridículo esse seu! (Irônica) 'Oi, Socorro', 'Oi, Geiza'!
Então, Geiza, meu amor, eu só não dou na sua cara e na cara dessa Socorro em
respeito ao Padre Augusto!
O Padre
observa a briga comendo uma rosquinha. Quando percebe que todos estão
olhando-o, para. Ele é gordo.
PADRE -
Rosleninha, meu amor... Minha filha, vai
rolar um lanchinho na sua casa depois?
ROSLENE
- Não preparei nada não, padre.
PADRE -
Então pode ir pra puta que te pariu, sua
mocoronga! Vai pro quinto dos infernos junto com essa travecona estupida!
SOCORRO
- Mas que palhaçada! (Jogando as rosquinhas do
padre) Hein, cachorro? Vai comer na casa da Geiza, no quinto dos infernos, vai,
ridículo!
Socorro
expulsa a mulher e o Padre.
PADRE -
Vão para o inferno, todos vocês.
GEIZA -
Se precisarem de mim podem ligar.
Os dois
saem.
ROSLENE
- Sua degenerada! Quem é que vai fazer a missa
agora, hein?
SOCORRO
- Mas não seja por isso: Eu faço!
ROSLENE
- (Sussurrando) Mas como é que você vai fazer
isso, sua imbecil?
SOCORRO
- Eu improviso! Ah, eu devo ter na minha bolsa
um livro de discursos lindo! Tem outro lá que é apropriadíssimo para esta situação!
ROSLENE
- A gente podia chamar o padre da catedral de
Rio Branco! Seria tão sofisticado!
SOCORRO
- E perder nosso tempo? Os amigos da titia
iriam embora. Ah, Roslene, cala a boca e ajuda. Você que está mais mal vestida
aí, pega minha frasqueira, vai.
ROSLENE
- (Pega a bolsa de Socorro) Toma!
SOCORRO
- (Abre a bolsa, tira um livro e lê o título)
Mil e umas maneiras de ser um travesti lindo de Celso Kamura! Apropriado!
ROSLENE
- (Chocada) Você... Você não vai ler isso, vai?
SOCORRO
- Claro que vou! É perfeito.
Socorro
pede a atenção de todos, que já conversam.
SOCORRO
- Atenção povão! Eu vou rezar a última missa da
defunta e depois vocês podem ir pro raio que os parta. (Pigarreia) Primeiro
ato: Rua Augusta é meu Vaticano! A sem-vergonhice é meu Latim! A Vera Verão é o
meu Papa!
COVEIRO
- (Indignado, interrompendo) Aonde diabos isso
tem a ver com a missa?
SOCORRO
- Não é da sua conta, favelado, magro, morto de
fome. Vai comer uma mortadela, vai, palito de dentes. ENFIM... Tia Difuntina
foi uma excelente travesti, amém!
ROSLENE
- Pronto, cambada. Agora vocês já podem ir
embora! Vão arrumar um trouxa pra vocês lavarem, uma unha pra cortar e um pé
cabeludo pra depilar!
Todos
saem. O coveiro enterra o caixão no buraco, Roslene e Socorro saem.
Corta
para:
Cena 03.
Cemitério. Exterior, fim de tarde.
Roslene
e Socorro caminham em direção ao por do sol. As duas caladas, Roslene puxa
assunto.
ROSLENE
- Socorro, o que você pretende fazer de agora
em diante? A tia morreu e/
SOCORRO
- E daí que morreu? Eu e a Titia nunca fomos
próximas. Nunca.
ROSLENE
- Mas foi pra você que ela deixou o diamante.
SOCORRO
- Eu esqueci que você ouviu nossa conversa...
Mas você também é uma cadela, hein!
ROSLENE
- Me respeita, seu abutre mau lavado! Responda
minha pergunta! Você vai voltar pra São Paulo?
SOCORRO
- Mas é claro que sim. Vou comprar uma mansão
enorme!
ROSLENE
- Para isso você... Vai vender o diamante?
SOCORRO
- Óbvio. Você não quer que eu enfie ele no meu/
ROSLENE
- Vende pra mim, Socorro! Pelo amor de Santa
Terezinha, vende esse diamante pra mim! Como a titia disse, ele teve muito
valor sentimental pra ela... vai ter pra mim também!
SOCORRO
- Faça-me rir, Roslene. Com que dinheiro?
ROSLENE
- Ah, então você não sabe? A Titia fez um
testamente. Provavelmente toda a fortuna será dividida entre nós duas.
SOCORRO
- (Surpresa) E... Quando sai esse tal
testamento?
ROSLENE
- Hoje a noite. Meu deus, Socorro, você não
sabia?
SOCORRO
- Não, e nem vou chegar atrasada. Obrigada por
informar.
Socorro
começa a correr. Roslene corre atrás. Na correria as duas tropeçam e caem no
chão. Começam a se estapear.
SOCORRO
- (Batendo e apanhando) Socorro! Sai de cima de
mim, sua jararaca gorda e feia!
ROSLENE
- (Batendo e apanhando) Sai você abutre mau
lavada!
As duas
continuam a se bater. Chega um rapaz com uma toca na cabeça e com uma arma.
ASSALTANTE
- Eu 'vô' tá requisitando que as 'madama' ficam
'pianinho' aí!
SOCORRO
- Mas meu senhor! (Tira dinheiro da bolsa) O
senhor pode levar! Eu o entrego e bom grado! Leve, mas deixe EU ir embora, por
favor!
ROSLENE
- (Tirando dinheiro do sutiã) Eu também tenho
bastante grana! Leva, mas me solta, pelo amor de deus!
ASSALTANTE
- E quem disse que eu vou tá querendo só grana?
(Malicioso) Duas mulheres gostosas como vocês podem oferecer muito mais que
isso!
SOCORRO
- Eu sou travesti.
ROSLENE
- E eu hermafrodita.
ASSALTANTE
- (Assanhado) É sempre bom inovar...
Socorro
e Roslene fazem uma expressão de medo.
Corta
para:
Cena
04. Tribunal, leitura do testamento. Interior, noite.
Uma
mesa e algumas cadeiras são o foco da câmera. Um homem com folhas de papel na
mão está impaciente. Outro está de pé, também ansioso.
HOMEM 1
- Doutor Izidório, podemos começar? Não tenho
todo o tempo do mundo não!
IZIDÓRIO
- Impossível começarmos sem a chegada de pelo
menos uma das beneficiadas com o testamento do senhor Defuntino dos Mortos
Fernandes.
Chegam
Socorro e Roslene, afobadas. Roslene veste só um calção de bolinhas vermelhas e
uma blusa branca. Socorro veste apenas uma lingerie preta.
HOMEM 1
- Mas o que é isso? Alguma brincadeira?
SOCORRO
- Senhor, deixe-nos ouvir a declaração do
testamento de titia... Ela acaba de ser enterrada e ainda fomos assaltadas! Por
pouco conseguimos fugir!
ROSLENE
- Por pouco o cacete. Foi por muito. Digamos
que o assaltante pediu... (Constrangida) Alguns serviços particulares para
deixar-nos sair.
IZIDÓRIO
- Imagino, imagino.
HOMEM 1
- Bom, independente das vestimentas de ambas as
senhoras, nós precisamos começar. Posso ler?
TODOS -
(Menos o Homem 1) Começa!
fO
homem 1 começa a ler, mas a voz se mescla com a de Difuntina. A partir de dado
momento, só ouvimos a voz de Difuntina, em off.
HOMEM 1
- (Lendo) 'Se vocês estão lendo isso agora...'
DIFUNTINA
- (Voz em of.) '...É porque eu morri. Mas
calma, não se assustem. A morte é um processo natural. Sempre tive o costume de
dizer que a morte faz parte da vida. E é a verdade. Passo agora a viver, viver
na morte. Nos braços do silêncio descansarei.
É claro
que a vida de vocês continua. Então eu decidi melhora-las. Durante minha vida
sempre acumulei fortunas, ganhadas de modos que não interessam a ninguém.
Nunca
tive filhos. Mas tenho duas pessoas que, pelo menos durante um tempo,
considerei parte de mim: Minhas sobrinhas, Socorro e Roslene.
Deixo
para as duas toda a minha fortuna, avaliada em dez milhões de reais. O meu
desejo é que cada uma fique com quatro milhões. Os outros dois deve ser
instantaneamente doado a uma instituição de caridade.
A minha
casa pode ser vendida, e o dinheiro dividido entre as duas.
Parto
no silêncio, silêncio quem sempre me acolheu- Até em vida.'
A
câmera mostra Socorro e Roslene chorando.
Corta
para:
Cena
05. Casa de Difuntina/Quarto de Socorro. Interior, dia.
Estamos
num grande quarto para visitas. Socorro arruma uma mala. Entra Roslene.
ROSLENE
- Então você volta hoje?
SOCORRO
- Não resta mais nada pra mim fazer aqui.
ROSLENE
- E... Você pensou na minha proposta?
SOCORRO
- (Irritada) Eu já disse quinhentas vezes que
eu não sou sapatão, sua galinha de macumba amarela!
ROSLENE
- Sua anta, eu tô falando da proposta de me vender
o diamante! Sua mula.
SOCORRO
- Claro, Rô. Cinco milhões, como a tia falou
que valia.
ROSLENE
- Mas... Você... Você sabe... Eu ganhei quatro,
e não cinco, milhões!
SOCORRO
- O problema é seu. Então fico eu com o
diamante.
CAM
foca na expressão de ódio de Roslene.
ROSLENE
- Então vá chupar um/
SOCORRO
- Picolé. Eu vou chupar um picolé, com certeza.
Corta
para:
Cena
06. Casa de Socorro, São Paulo. Interior, dia.
Estamos
na casa de Socorro, apresentada no capítulo anterior. Surge um letreiro: São
Paulo. A casa está mais bagunçada do que antes. Toca o funk: Hoje/Mc
Ludmilla, no rádio, alto. Raimunda desce até o chão ao som da música. Chega
Astrogildo, que desliga o rádio.
RAIMUNDA
- Ah, Astrogildo, estragou a minha performance!
ASTROGILDO
- Performance só na minha cama, cachorra.
RAIMUNDA
- (Assanhada) Então vamos, meu 40cm do
subúrbio!
ASTROGILDO
- Não... A Socorro tá voltando... Ela falou que
em uma semana ela estava aqui... E se ela chegar de surpresa?
RAIMUNDA
- Jura que você se importa com essa paçoquita
de gaveta? Meu amor, vai pra minha casa que eu te sustento! Ainda faço chá de
calcinha.
ASTROGILDO
- Raimunda, cara de bunda, eu já estou
decidido: Sairei da casa da Socorro, assim que ela retornar. Serei seu negão
até o fim dos dias.
Os dois
se beijam e rolam no sofá.
Corta
para:
Cena
06. Aeroporto. Exterior, dia.
Um taxi
chega no aeroporto, um lugar enorme. Descem Socorro e Roslene. Um homem carrega
as malas de Socorro, que está apressada.
ROSLENE
- (Andando atrás de Socorro) Socorro... Por favor,
Socorro! Esse diamaante não tem pra você o valor sentimental que tem pra mim!
Socorro/
SOCORRO
- (Gritando) Cala a boca! Sua energúmena, eu
vou ficar com o diamante pra mim, simples. Além do que eu já estou rica mesmo.
Pra que vou querer mais?
ROSLENE
- Pois é, pra que você vai querer mais ESSE
DIAMANTE? Por favor, Sô!
SOCORRO
- (Irônica) Não, Rô... Agora me dá licença que
meu voo é as três. Já são duas e meia, não quero me atrasar.
Socorro
entra dentro do aeroporto. O homem a segue e vemos em Roslene uma expressão de
ódio, jamais vista.
Corta
para:
Cena
07. Avião. Interior, dia.
Socorro
está sentada em uma poltrona, desconfortável. Uma aeromoça chega.
AEROMOÇA
- A senhora já voou antes?
SOCORRO
- É a minha primeira vez, mocinha.
AEROMOÇA
- Garanto que gostará dos serviços prestados
pela nossa companhia.
SOCORRO
- Vem cá, menina: Quem vai sentar aqui do lado?
AEROMOÇA
- Infelizmente eu não sei, senhora. Mas logo a
pessoa chega, o voo parte em quinze minutos. Agora se me dá licença...
A
aeromoça sai. Chega um homem gordo.
HOMEM -
Oi, gata.
SOCORRO
- Eu sabia. Mas eu sabia! Que inferno. Um
gordo, tinha que ser. Não podia ser um bombado, gostoso? Não, veio uma rolha de
poço. Olha, meu senhor, já quero lhe alertar: Não mecha comigo. Eu meto a mão
na sua cara, eu te jogo pra fora desse avião! Agora eu sou rica! (Gritando) Eu
sou ricaaaaaaa! Faço cosplay de Carolina Ferraz se eu quiser!
Socorro
fecha os olhos e a CAM foca na expressão do homem, confusa.
HOMEM -
Eu, hein. Só queria pedir pra ir na janela.
Se eu vomitar nessa mulher a culpa é dela.
Corta
para:
Cena
08. Aeroporto do Acre. Interior, dia.
Roslene observa o avião, que arranca
voo. A expressão dela é de ódio.
ROSLENE - Não
vai ficar assim.
Ela caminha até a recepção e entra em
uma enorme fila. Começa a aguardar.
ROSLENE - (Cantando)
Com o seu jeitinho, gordo, gordo, gordo... Com o seu jeitinho, sexy, sexy...
(Para de cantar) E essa fila que não anda, gente?
ATENDENTE - (Sem
paciência) Próximo!
ROSLENE - (A
atendente) Oi gata, tá joia? Então, eu queria saber quanto custa uma passagem
para São Paulo, para amanhã? Primeira classe.
ATENDENTE - (Irônica,
rindo) Primeira classe? Meu amor, com essa cara de favelada do subúrbio, cê vai
pagar como? (Gargalha alto, assustando Roslene)
ROSLENE - (Nervosa)
Eu tenho dinheiro, sua anta com problema digestivo!
ATENDENTE - Tendo
ou não tendo dinheiro, a senhora não vai viajar na primeira classe, porque está
esta lotada. Só teremos na classe econômica, quinhentos reais.
ROSLENE - Eu
quero.
A atendente sai em busca de algo.
Roslene fica só.
ROSLENE - Socorro,
Socorro... Me aguarde, minha prima! Esse diamante vai ser meu. Nem que pra
isso... Nem que pra isso sangue tenha que rolar!
A atendente volta.
ATENDENTE - Está
aqui! Obrigada por piajar com a Amazon Air. Nós agradecemos!
CAM frisa a expressão vitoriosa de
Roslene, que começa a rir.
A
Imagem congela, vira um diamante e derrete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário