sábado, 27 de dezembro de 2014

Episódio 2: Espírito do Natal (ÚLTIMO)

Márcia ouviu um barulho muito alto que vinha do outro lado do telefone e perguntou pelo ex-marido:
- Leandro? Leandro?
Não ouvindo nada, Márcia desesperou-se e comentou com Célia:
- Célia, ele não diz mais nada, eu ouvi um barulho muito alto.
- Meu Deus. Coisa boa que não foi.
- Vira essa boca para lá, Célia. O celular deve ter caído da mão dele.
- Não sei não, Márcia. Ele disse mais alguma coisa?
- Não. Vou esperar um pouco. - disse Márcia, com o telefone ainda na orelha.
Márcia ficou esperando ouvir algum barulho e só ouviu:
- Socorro!
A voz parecia ser de Gabi, então Márcia desesperou-se:
- Célia, precisamos saber onde eles estão. A Gabi tá gritando socorro.
- Pergunta o que aconteceu. - recomendou Célia.
Márcia perguntou, pelo telefone, o que havia acontecido, mas ninguém do carro conseguia ouvir ela falando. Desesperada, Márcia resolveu ligar para a polícia:
- Bom di.. boa tarde. Preciso da ajuda da polícia.
- Boa tarde. Por quê, senhora?
- Meus filhos estavam no carro com meu marido, acho que eles sofreram um grave acidente.
- Em qual estrada?
- Não sei, só sei que era na saída da cidade. Eu posso passar o telefone dele.
- Ótimo, assim rastreamos.
Márcia passou o número de Leandro para  a polícia e um agente da polícia disse que iria à casa de Márcia para levá-la ao local do possível.
- Márcia, você não sabia que sua relação com Leandro estava tão forte assim.
- Claro que não está.
- Você disse pra polícia que ele é seu marido.
- Eu disse isso?
- Sim.
- Me confundi com a emoção do momento.
- Sei.
- Agora precisamos descobrir algo sobre meus filhos e ele.
- Daqui a pouco a polícia vem aqui.
Enquanto a polícia não chegava, Célia preparava a ceia de Natal.
- Célia, o que você tá fazendo?
- Preparando a ceia, vou colocar a mesa agora.
Célia pegou cinco pratos para arrumar a mesa.
- Célia, somos quatro. Não sabe contar, não? Eu, você  e as crianças.
- Cinco! Tem o Leandro.
- Para com isso, Célia. Tô muito preocupada com as crianças.
- Essa polícia é muito lerda.
- Esse é o Brasil!
- Pois é.
Cerca de quinze minutos depois, a polícia apareceu na casa de Márcia. O policial Arnaldo foi falar com Márcia e Célia:
- Por favor, venham logo. A ambulância já está no local do acidente, vamos direto para o hospital.
- Poxa, vocês demoraram muito. - disse Célia.
- Senhora, viemos o mais rápido possível.
- Tá. Onde foi esse acidente? - perguntou Márcia preocupada.
- Como a senhora disse, na estrada de saída da cidade.
- O acidente foi grave?
- Foi um pouco. Só teremos certeza quando chegarmos ao hospital.
Márcia ficou muito preocupada e Célia a confortou:
- Fique calma, amiga.
- Como você quer calma? Leandro e as crianças sofreram um grave acidente de carro.
- Tá.
Enquanto isso, no local do acidente, os médicos da ambulância encontraram Gabi com pequenos ferimentos na cabeça e nos braços, Leandro estava desacordado e Guilherme não dava sinais de estar vivo. A equipe médica logo ficou preocupada com pai e filho, então logo o colocaram na ambulância para fazer com que eles respirassem e tentassem resgatar a vida dos dois.
Dentro do carro, os policiais receberam a notícia e repassaram para Márcia e Célia:
- Senhoras, tenho  duas notícias para contar: uma boa e uma ruim. Qual as senhoras querem primeiro?
- A ruim. - disse Márcia.
- O Leandro está desacordado e Guilherme não dá sinais de vida.
- E a Gabi? - perguntou Célia.
- Essa é a notícia boa. Ela só está com arranhões.
- Onde eles estão?
- Na ambulância, indo pro hospital.
- Eles vão demorar?
- Não, vamos chegar um pouco depois.
- Tá, então acelera isso.
- Estamos indo na velocidade permitida.
- Ah, meu Deus, uma tartaruga vai mais rápido que esse carro.
- Dona Márcia, acalme-se.
- Você me pede pra ficar calma?! Se fosse seus filhos lá, você estaria fazendo o mesmo.
- Eu não tenho filhos.
- Então se sua mãe estive lá então.
- Ela já morreu.
- Então se fosse sua esposa, seu marido, sei lá...
- Mais respeito, senhora.
- Já chegamos nesse hospital?
- Não.
- Meu Deus. Vocês são umas tartarugas. Me lembra aquela música das Frenéticas, ''Lesma lerda''. - disse Márcia, rindo.
- Márcia, fica um pouco quieta. Eles vão te prender por desacato. - aconselhou Célia.
- Tá, amiga.
A ambulância chegou ao hospital e em seguida, Márcia e Célia chegaram com os policiais. Márcia, desesperada, correu para procurar os filhos e o ex-marido.
- Moça, cadê meus filhos? - perguntou Márcia à recepcionista.
- Quem são eles, senhora?
- Eles vieram da ambulância.
- O acidente da estrada?
- Sim.
- Eles acabaram de chegar. Vá até o fim do corredor, eles estão lá.
Márcia correu desesperada até o fim do corredor que a recepcionista havia dito, acompanhada da amiga fiel Célia. Elas logo viram Gabi chorando e assustada.
- Mamãe, o que aconteceu?
- Gabi, você tá bem?
- Tô sim, mas e o papai e o Gui?
- Não sei deles, vou ver agora. Filha, vai com a tia Célia para casa preparar a ceia.
- Isso, Gabi, vem comigo. - chamou Célia.
- Mas eu quero ver o papai e o Gui. Eles vão morrer? - perguntou Gabriela.
- Nã... não sei. - disse Márcia com incerteza.
- Vai lá, Márcia. - recomendou Célia.
- Tá. Gabi, fica quietinha em casa e façam uma comida bem gostosa. - falou Márcia, que logo foi acompanhar Guilherme e Leandro.
Márcia encontrou um médico perto do filho e do ex-marido e perguntou:
- Doutor, eu sou mãe do Guilherme.
- Boa tarde, eu sou o doutor José Marcos e cuidarei dele. O homem é seu marido?
- Nã... é sim, doutor.
- Bem, o acidente foi bem grave.
- Tá, isso eu sei, mas como eles estão?
- Olha, o seu marido está somente desmaiado, mas o Guilherme...
- O que tem com ele?
- Ele não tá respirando.
- Ele morreu? - perguntou Márcia, chorando.
- Ainda não podemos declarar óbito. Estamos tentando o máximo para isso não ocorrer.
- Doutor, eu tenho uma coisa para falar.
- Pode falar.
- A gente suspeita que ele tenha leucemia.
- Como assim?
- Ontem, ele sangrou no nariz do nada e o joelho ficou doendo, aí hoje de manhã na TV falaram que esses eram alguns sintomas.
- É, mas não são os únicos, existem outros também, mas para comprovar vamos fazer um exame de sangue, o hemograma, e um exame da medula óssea, que chamamos de mielograma.
- Tá, mas quanto tempo ficam prontos os resultados?
- Com o hemograma que fica pronto em algumas horas aqui nesse hospital, se tiver alterado, ficaremos em alerta, mas o mielograma demora entre 3 e 7 dias, aí sim teremos o diagnóstico.
- Meu Deus, eu estou muito nervosa e  preocupada.
- Fique tranquila.
- Vou tentar. Eu sei que é Natal, o senhor deve querer ir para sua casa mas por favor cuida deles.
- Essa é a minha profissão, senhora. Pode ter a certeza de que eu farei o meu máximo.
- Muito obrigada.
- Não precisa agradecer. Agora eu preciso ir.
- Eu posso ir?
- Bem, como o estado do Guilherme está grave, a senhora só vai poder ver o Leandro, seu esposo. Ele deve estar acordando, vamos fazer uns curativos  e ele estará liberado.
- Tá bem.
O doutor José Marcos pediu para uma enfermeira acompanhar Márcia até o quarto onde Leandro estava. Chegando ao quarto, Márcia encontrou-o acordado.
- Oi Leandro.
- Oi Márcia.
- Vou deixar você com sua esposa, seu Leandro. - disse uma enfermeira.
- Ele não é meu marido.
- Não foi isso que você andou falando pra todo mundo por aí. - disse Leandro.
- Depois a gente fala disso, Leandro.
- Por que adiar?
- Você ainda pergunta isso? Nosso filho não tá respirando.
- Ele morreu?
- O médico disse que não dá pra falar isso ainda, tão tentando de tudo.
- E a Gabi?
- Ela foi pra casa com a Célia.
- Tá. Por que você disse que achava que o Gui tava com leucemia?
- Lembra que eu te disse das dores e do sangramento de ontem?!
- Sim.
- Então, hoje na TV disseram que esses são alguns sintomas da leucemia.
- Sério?
- Não, Leandro, estou zoando com a sua cara. - disse Márcia, ironicamente.
- Fala sério.
- Estou falando sério.
- O médico confirmou?
- Ele vai fazer um hemograma. Aí se tiver alterado, eles ficarão de olho.
- Em quanto tempo fica pronto?
- Algumas horas. Aí também farão um mielograma.
- O que é isso?
- Exame da medula óssea.
- Continua.
- Então, com esse que teremos o diagnóstico, mas esse demora um pouco mais.
- Quanto tempo?
- Entre 3 e 7 dias.
- Tomara que o Gui fique bem.
- Eu vou na capela do hospital.
- Está bem.
Enquanto isso, na casa de Márcia, os policias chegaram para interrogar Célia e fazer perguntas à Gabriela.
- O que os senhores precisam de mim? - perguntou Célia.
- Bem, dona Célia, a dona Márcia é casada com o Leandro?
- Sim.
- Eles moram juntos?
- Não, eles tiveram um probleminha de casal mas estão voltando.
- As crianças ainda veem ele?
- Claro.
- Que probleminha foi esse?
- Vocês, representantes da polícia, deveriam saber. Mas eu conto: ele se envolveu com drogas e muamba, mas já pagou a pena dele.
- Eles são separados no papel?
- Não, eles não quiseram.
- Por quê?
- Por algum motivo eu me chamo Márcia ou Leandro? Não! Perguntem a eles.
- Calma, senhora.
- Estou calmíssima. Tenho que fazer a ceia e cuidar da Gabi.
- Chame ela aqui por favor.
- Tá.
Célia foi chamar Gabi.
- Oi, Gabi. - disse o policial.
- Oi.
- Seus papais moram juntos?
- Não, papai mora longe, mas ele sempre sai com a gente.
- Vocês gostam de sair junto com ele?
- Sim.
- Por que ele não mora mais aqui?
- Ele teve uns problemas. Foi o que a mamãe nos contou.
- Ele ainda fala com sua mãe?
- Sim.
- Hoje, na estrada, seu pai fazia algo enquanto dirigia?
- Não.
- Alguém ligou para ele?
- Sim, mas o Gui atendeu.
- Quem era?
- A mamãe, para saber do Gui.
- Saber sobre o que?
- Policial, melhor não forçar, ela está abalada com o estado do irmão. - interrompeu Célia.
- Está bem. Dona Célia, muito obrigado e Feliz Natal.
Os policiais logo saíram da casa. Preocupada com a amiga, Célia ligou para Márcia, que estava indo  à capela rezar pela melhora do filho.
- O que houve, Célia?
- Márcia, os policiais tão aí?
- Eu estou indo pra capela rezar, mas tem uns aqui perto.
- Fica de olho. Eles vieram aqui pra interrogar a gente.
- O que eles queriam?
- Saber sobre você e o Leandro.
- O que você disse?
- Que vocês tiveram um probleminha mas estão voltando, e disse que vocês não são separados no papel.
- Isso da separação é verdade. O que você acha que eles querem saber de mim?
- Muitas coisas, mas responde mais ou menos o que eu disse.
- Entendi.
- Acho que eles podem querem botar Leandro na cadeia.
- Por quê?
- Ele tava saindo da cidade sem te comunicar, não foi isso que o juiz permitiu no tribunal, e podem dizer que ele queria matar as crianças.
- Você acha isso?
- Sim, e ainda podem aplicar multa se souberem que ele falava no telefone enquanto dirigia.
- Tá, obrigada Célia.
- Você vai proteger ele?
- Claro, ele é o meu pai dos meus filhos, não quero que meus filhos com um pai na prisão novamente.
- Só por isso?
- Só. Qual outro motivo eu teria?
- Você ainda gosta dele né?
- Sinceramente, sim. Eu sempre amei ele.
- Sempre soube. - ri Célia.
- Tem policial vindo na minha direção, vou desligar.
- Está bem. Boa sorte, estamos rezando aqui.
Os policias viram Márcia e a chamaram.
- Dona Márcia, você precisa responder umas perguntas nossas.
- Não tem como eu ir pra delegacia, porque meu filho está em estado grave.
- Podemos te perguntar aqui mesmo. Por favor, sente-se aqui. - disse o policial e Márcia fez o que ele pediu.
- O que vocês querem saber?
- A senhora é casada com Leandro?
- No papel, sim.
- Mas vocês moram juntos?
- Não, ele saiu porque se envolveu com drogas e pirataria, aí foi preso, mas está reconstruindo a vida.
- Ele vê seus filhos?
- Sim.
- A senhora é a favor disso?
- Sim. Meus filhos sempre gostaram muito dele.
- E a senhora?
- O que tem eu?
- A senhora ainda gosta dele?
- Querido, da minha vida amorosa cuido eu.
- Está bem. O que ele fazia enquanto dirigia?
- Como eu vou saber? Não estava lá.
- Ele costuma falar no celular dirigindo?
- Não.
- Como é o trato entre vocês para os passeios?
- Ele deve me comunicar onde vai.
- Ele te disse que ia sair da cidade?
- Sim.
- A senhora aprova isso?
- Desde que ele me avise, sim.
- Para a senhora, qual foi a causa do acidente?
- Acidentes acontecem diariamente. Leandro é muito atento.
- A senhora ligou para ele hoje?
- Sim, mas falei com o Guilherme.
- Para saber do que?
- Achamos que ele pode ter leucemia, só esperamos os exames e ele voltar a respirar.
- Obrigado, dona Márcia.
- Tchau.
Márcia afastou-se mas conseguiu ouvir dois policiais conversando:
- Você falou com o caminhoneiro?
- Sim, ele tem amnésia. Não lembra de absolutamente nada.
- Que droga.
- Aham. Velho inútil.
- O que vamos fazer?
- Tem que arquivar o caso, nada mais a fazer.
Feliz com a notícia mas destruída por dentro por causa do filho, Márcia foi rezar na capela. Depois, juntou-se ao marido e esperaram durante algumas horas o  médico José. Perto das 23 horas do dia 24 de dezembro, o médico chegou com uma notícia:
- Dona Márcia e seu Leandro, tenho uma notícia.
- Fala, doutor.
- Ele vai acordar daqui a pouco, o efeito do anestesia está acabando. O resultado do hemograma sairá em uma hora.
- Mas ele poderá ir para casa hoje?
- Infelizmente não. Ficará de repouso aqui até amanhã.
- E a ceia, Márcia? - perguntou Leandro.
- Sabe aquela frase sobre Maomé? - questionou Márcia.
- Qual?
- Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.
- Traduzindo...
- Vamos trazer tudo da ceia para cá. Doutor, tem como arrumar uma sala para fazermos isso? - perguntou Márcia ao médico.
- Sim.
- Obrigada. Temos uma hora então.
Márcia ligou para Célia e em uma hora, tudo da ceia de Natal estava numa sala bastante enfeitada e bonita. Exatamente quando o relógio marcou meia noite, Guilherme abriu os olhos, emocionando todos que estavam por perto.
- Doutor, temos o resultado do hemograma?
- Sim. Ele não está alterado.
Todos estavam comemorando, mas o médico avisou:
- Quase sempre, os exames acertam mas pode ser que ele tenha errado, mas tudo isso será esclarecido em alguns dias. Pelas festas de fim de ano, dia 31 sai o resultado.
Todos ficaram muito felizes e conseguiram comer a comida da ceia mais tranquilos. Depois da ceia, foi o momento da entrega dos presentes. Guilherme e Gabi ganharam os brinquedos que desejavam e Leandro fez uma declaração para Márcia:
- Márcia, mesmo com todos os problemas nos quais eu me envolvi, você sempre esteve próxima, por isso quero fazer com você uma festa de renovação de votos. Aceita? - disse ele, entregando um anel muito bonito para Márcia.
- Claro.
Os dois se beijaram e todos aplaudiram o momento. Aquele dia foi muito especial para Márcia e toda sua família. Para ela, quem salvou seu filho e aquele Natal foi o verdadeiro espírito do Natal.
Alguns dias passaram-se e toda a família, muito ansiosa, foi ao hospital no dia 31 para buscar o resultado do mielograma. O doutor José Marcos anunciou:
- Esse exame é o que vale realmente. Guilherme, fique tranquilo e curta sua vida, porque você não tem leucemia.
Toda a família ficou muito feliz e todos abraçaram Guilherme. Para eles, aquele fim de ano foi marcado como uma época especial, onde prevaleceu o bom espírito do Natal, e por que não do Ano Novo também?!



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