Márcia
ouviu um barulho muito alto que vinha do outro lado do telefone e perguntou
pelo ex-marido:
-
Leandro? Leandro?
Não
ouvindo nada, Márcia desesperou-se e comentou com Célia:
-
Célia, ele não diz mais nada, eu ouvi um barulho muito alto.
-
Meu Deus. Coisa boa que não foi.
-
Vira essa boca para lá, Célia. O celular deve ter caído da mão dele.
-
Não sei não, Márcia. Ele disse mais alguma coisa?
-
Não. Vou esperar um pouco. - disse Márcia, com o telefone ainda na orelha.
Márcia
ficou esperando ouvir algum barulho e só ouviu:
-
Socorro!
A
voz parecia ser de Gabi, então Márcia desesperou-se:
-
Célia, precisamos saber onde eles estão. A Gabi tá gritando socorro.
-
Pergunta o que aconteceu. - recomendou Célia.
Márcia
perguntou, pelo telefone, o que havia acontecido, mas ninguém do carro
conseguia ouvir ela falando. Desesperada, Márcia resolveu ligar para a polícia:
-
Bom di.. boa tarde. Preciso da ajuda da polícia.
-
Boa tarde. Por quê, senhora?
-
Meus filhos estavam no carro com meu marido, acho que eles sofreram um grave
acidente.
-
Em qual estrada?
-
Não sei, só sei que era na saída da cidade. Eu posso passar o telefone dele.
-
Ótimo, assim rastreamos.
Márcia
passou o número de Leandro para a
polícia e um agente da polícia disse que iria à casa de Márcia para levá-la ao
local do possível.
-
Márcia, você não sabia que sua relação com Leandro estava tão forte assim.
-
Claro que não está.
-
Você disse pra polícia que ele é seu marido.
-
Eu disse isso?
-
Sim.
-
Me confundi com a emoção do momento.
-
Sei.
-
Agora precisamos descobrir algo sobre meus filhos e ele.
-
Daqui a pouco a polícia vem aqui.
Enquanto
a polícia não chegava, Célia preparava a ceia de Natal.
-
Célia, o que você tá fazendo?
-
Preparando a ceia, vou colocar a mesa agora.
Célia
pegou cinco pratos para arrumar a mesa.
-
Célia, somos quatro. Não sabe contar, não? Eu, você e as crianças.
-
Cinco! Tem o Leandro.
-
Para com isso, Célia. Tô muito preocupada com as crianças.
-
Essa polícia é muito lerda.
-
Esse é o Brasil!
-
Pois é.
Cerca
de quinze minutos depois, a polícia apareceu na casa de Márcia. O policial
Arnaldo foi falar com Márcia e Célia:
-
Por favor, venham logo. A ambulância já está no local do acidente, vamos direto
para o hospital.
-
Poxa, vocês demoraram muito. - disse Célia.
-
Senhora, viemos o mais rápido possível.
-
Tá. Onde foi esse acidente? - perguntou Márcia preocupada.
-
Como a senhora disse, na estrada de saída da cidade.
-
O acidente foi grave?
-
Foi um pouco. Só teremos certeza quando chegarmos ao hospital.
Márcia
ficou muito preocupada e Célia a confortou:
-
Fique calma, amiga.
-
Como você quer calma? Leandro e as crianças sofreram um grave acidente de
carro.
-
Tá.
Enquanto
isso, no local do acidente, os médicos da ambulância encontraram Gabi com
pequenos ferimentos na cabeça e nos braços, Leandro estava desacordado e
Guilherme não dava sinais de estar vivo. A equipe médica logo ficou preocupada
com pai e filho, então logo o colocaram na ambulância para fazer com que eles
respirassem e tentassem resgatar a vida dos dois.
Dentro
do carro, os policiais receberam a notícia e repassaram para Márcia e Célia:
-
Senhoras, tenho duas notícias para
contar: uma boa e uma ruim. Qual as senhoras querem primeiro?
-
A ruim. - disse Márcia.
-
O Leandro está desacordado e Guilherme não dá sinais de vida.
-
E a Gabi? - perguntou Célia.
-
Essa é a notícia boa. Ela só está com arranhões.
-
Onde eles estão?
-
Na ambulância, indo pro hospital.
-
Eles vão demorar?
-
Não, vamos chegar um pouco depois.
-
Tá, então acelera isso.
-
Estamos indo na velocidade permitida.
-
Ah, meu Deus, uma tartaruga vai mais rápido que esse carro.
-
Dona Márcia, acalme-se.
-
Você me pede pra ficar calma?! Se fosse seus filhos lá, você estaria fazendo o
mesmo.
-
Eu não tenho filhos.
-
Então se sua mãe estive lá então.
-
Ela já morreu.
-
Então se fosse sua esposa, seu marido, sei lá...
-
Mais respeito, senhora.
-
Já chegamos nesse hospital?
-
Não.
-
Meu Deus. Vocês são umas tartarugas. Me lembra aquela música das Frenéticas,
''Lesma lerda''. - disse Márcia, rindo.
-
Márcia, fica um pouco quieta. Eles vão te prender por desacato. - aconselhou
Célia.
-
Tá, amiga.
A
ambulância chegou ao hospital e em seguida, Márcia e Célia chegaram com os
policiais. Márcia, desesperada, correu para procurar os filhos e o ex-marido.
-
Moça, cadê meus filhos? - perguntou Márcia à recepcionista.
-
Quem são eles, senhora?
-
Eles vieram da ambulância.
-
O acidente da estrada?
-
Sim.
-
Eles acabaram de chegar. Vá até o fim do corredor, eles estão lá.
Márcia
correu desesperada até o fim do corredor que a recepcionista havia dito,
acompanhada da amiga fiel Célia. Elas logo viram Gabi chorando e assustada.
-
Mamãe, o que aconteceu?
-
Gabi, você tá bem?
-
Tô sim, mas e o papai e o Gui?
-
Não sei deles, vou ver agora. Filha, vai com a tia Célia para casa preparar a
ceia.
-
Isso, Gabi, vem comigo. - chamou Célia.
-
Mas eu quero ver o papai e o Gui. Eles vão morrer? - perguntou Gabriela.
-
Nã... não sei. - disse Márcia com incerteza.
-
Vai lá, Márcia. - recomendou Célia.
-
Tá. Gabi, fica quietinha em casa e façam uma comida bem gostosa. - falou
Márcia, que logo foi acompanhar Guilherme e Leandro.
Márcia
encontrou um médico perto do filho e do ex-marido e perguntou:
-
Doutor, eu sou mãe do Guilherme.
-
Boa tarde, eu sou o doutor José Marcos e cuidarei dele. O homem é seu marido?
-
Nã... é sim, doutor.
-
Bem, o acidente foi bem grave.
-
Tá, isso eu sei, mas como eles estão?
-
Olha, o seu marido está somente desmaiado, mas o Guilherme...
-
O que tem com ele?
-
Ele não tá respirando.
-
Ele morreu? - perguntou Márcia, chorando.
-
Ainda não podemos declarar óbito. Estamos tentando o máximo para isso não
ocorrer.
-
Doutor, eu tenho uma coisa para falar.
-
Pode falar.
-
A gente suspeita que ele tenha leucemia.
-
Como assim?
-
Ontem, ele sangrou no nariz do nada e o joelho ficou doendo, aí hoje de manhã
na TV falaram que esses eram alguns sintomas.
-
É, mas não são os únicos, existem outros também, mas para comprovar vamos fazer
um exame de sangue, o hemograma, e um exame da medula óssea, que chamamos de
mielograma.
-
Tá, mas quanto tempo ficam prontos os resultados?
-
Com o hemograma que fica pronto em algumas horas aqui nesse hospital, se tiver
alterado, ficaremos em alerta, mas o mielograma demora entre 3 e 7 dias, aí sim
teremos o diagnóstico.
-
Meu Deus, eu estou muito nervosa e
preocupada.
-
Fique tranquila.
-
Vou tentar. Eu sei que é Natal, o senhor deve querer ir para sua casa mas por
favor cuida deles.
-
Essa é a minha profissão, senhora. Pode ter a certeza de que eu farei o meu
máximo.
-
Muito obrigada.
-
Não precisa agradecer. Agora eu preciso ir.
-
Eu posso ir?
-
Bem, como o estado do Guilherme está grave, a senhora só vai poder ver o
Leandro, seu esposo. Ele deve estar acordando, vamos fazer uns curativos e ele estará liberado.
-
Tá bem.
O
doutor José Marcos pediu para uma enfermeira acompanhar Márcia até o quarto
onde Leandro estava. Chegando ao quarto, Márcia encontrou-o acordado.
-
Oi Leandro.
-
Oi Márcia.
-
Vou deixar você com sua esposa, seu Leandro. - disse uma enfermeira.
-
Ele não é meu marido.
-
Não foi isso que você andou falando pra todo mundo por aí. - disse Leandro.
-
Depois a gente fala disso, Leandro.
-
Por que adiar?
-
Você ainda pergunta isso? Nosso filho não tá respirando.
-
Ele morreu?
-
O médico disse que não dá pra falar isso ainda, tão tentando de tudo.
-
E a Gabi?
-
Ela foi pra casa com a Célia.
-
Tá. Por que você disse que achava que o Gui tava com leucemia?
-
Lembra que eu te disse das dores e do sangramento de ontem?!
-
Sim.
-
Então, hoje na TV disseram que esses são alguns sintomas da leucemia.
-
Sério?
-
Não, Leandro, estou zoando com a sua cara. - disse Márcia, ironicamente.
-
Fala sério.
-
Estou falando sério.
-
O médico confirmou?
-
Ele vai fazer um hemograma. Aí se tiver alterado, eles ficarão de olho.
-
Em quanto tempo fica pronto?
-
Algumas horas. Aí também farão um mielograma.
-
O que é isso?
-
Exame da medula óssea.
-
Continua.
-
Então, com esse que teremos o diagnóstico, mas esse demora um pouco mais.
-
Quanto tempo?
-
Entre 3 e 7 dias.
-
Tomara que o Gui fique bem.
-
Eu vou na capela do hospital.
-
Está bem.
Enquanto
isso, na casa de Márcia, os policias chegaram para interrogar Célia e fazer
perguntas à Gabriela.
-
O que os senhores precisam de mim? - perguntou Célia.
-
Bem, dona Célia, a dona Márcia é casada com o Leandro?
-
Sim.
-
Eles moram juntos?
-
Não, eles tiveram um probleminha de casal mas estão voltando.
-
As crianças ainda veem ele?
-
Claro.
-
Que probleminha foi esse?
-
Vocês, representantes da polícia, deveriam saber. Mas eu conto: ele se envolveu
com drogas e muamba, mas já pagou a pena dele.
-
Eles são separados no papel?
-
Não, eles não quiseram.
-
Por quê?
-
Por algum motivo eu me chamo Márcia ou Leandro? Não! Perguntem a eles.
-
Calma, senhora.
-
Estou calmíssima. Tenho que fazer a ceia e cuidar da Gabi.
-
Chame ela aqui por favor.
-
Tá.
Célia
foi chamar Gabi.
-
Oi, Gabi. - disse o policial.
-
Oi.
-
Seus papais moram juntos?
-
Não, papai mora longe, mas ele sempre sai com a gente.
-
Vocês gostam de sair junto com ele?
-
Sim.
-
Por que ele não mora mais aqui?
-
Ele teve uns problemas. Foi o que a mamãe nos contou.
-
Ele ainda fala com sua mãe?
-
Sim.
-
Hoje, na estrada, seu pai fazia algo enquanto dirigia?
-
Não.
-
Alguém ligou para ele?
-
Sim, mas o Gui atendeu.
-
Quem era?
-
A mamãe, para saber do Gui.
-
Saber sobre o que?
-
Policial, melhor não forçar, ela está abalada com o estado do irmão. -
interrompeu Célia.
-
Está bem. Dona Célia, muito obrigado e Feliz Natal.
Os
policiais logo saíram da casa. Preocupada com a amiga, Célia ligou para Márcia,
que estava indo à capela rezar pela
melhora do filho.
-
O que houve, Célia?
-
Márcia, os policiais tão aí?
-
Eu estou indo pra capela rezar, mas tem uns aqui perto.
-
Fica de olho. Eles vieram aqui pra interrogar a gente.
-
O que eles queriam?
-
Saber sobre você e o Leandro.
-
O que você disse?
-
Que vocês tiveram um probleminha mas estão voltando, e disse que vocês não são
separados no papel.
-
Isso da separação é verdade. O que você acha que eles querem saber de mim?
-
Muitas coisas, mas responde mais ou menos o que eu disse.
-
Entendi.
-
Acho que eles podem querem botar Leandro na cadeia.
-
Por quê?
-
Ele tava saindo da cidade sem te comunicar, não foi isso que o juiz permitiu no
tribunal, e podem dizer que ele queria matar as crianças.
-
Você acha isso?
-
Sim, e ainda podem aplicar multa se souberem que ele falava no telefone
enquanto dirigia.
-
Tá, obrigada Célia.
-
Você vai proteger ele?
-
Claro, ele é o meu pai dos meus filhos, não quero que meus filhos com um pai na
prisão novamente.
-
Só por isso?
-
Só. Qual outro motivo eu teria?
-
Você ainda gosta dele né?
-
Sinceramente, sim. Eu sempre amei ele.
-
Sempre soube. - ri Célia.
-
Tem policial vindo na minha direção, vou desligar.
-
Está bem. Boa sorte, estamos rezando aqui.
Os
policias viram Márcia e a chamaram.
-
Dona Márcia, você precisa responder umas perguntas nossas.
-
Não tem como eu ir pra delegacia, porque meu filho está em estado grave.
-
Podemos te perguntar aqui mesmo. Por favor, sente-se aqui. - disse o policial e
Márcia fez o que ele pediu.
-
O que vocês querem saber?
-
A senhora é casada com Leandro?
-
No papel, sim.
-
Mas vocês moram juntos?
-
Não, ele saiu porque se envolveu com drogas e pirataria, aí foi preso, mas está
reconstruindo a vida.
-
Ele vê seus filhos?
-
Sim.
-
A senhora é a favor disso?
-
Sim. Meus filhos sempre gostaram muito dele.
-
E a senhora?
-
O que tem eu?
-
A senhora ainda gosta dele?
-
Querido, da minha vida amorosa cuido eu.
-
Está bem. O que ele fazia enquanto dirigia?
-
Como eu vou saber? Não estava lá.
-
Ele costuma falar no celular dirigindo?
-
Não.
-
Como é o trato entre vocês para os passeios?
-
Ele deve me comunicar onde vai.
-
Ele te disse que ia sair da cidade?
-
Sim.
-
A senhora aprova isso?
-
Desde que ele me avise, sim.
-
Para a senhora, qual foi a causa do acidente?
-
Acidentes acontecem diariamente. Leandro é muito atento.
-
A senhora ligou para ele hoje?
-
Sim, mas falei com o Guilherme.
-
Para saber do que?
-
Achamos que ele pode ter leucemia, só esperamos os exames e ele voltar a
respirar.
-
Obrigado, dona Márcia.
-
Tchau.
Márcia
afastou-se mas conseguiu ouvir dois policiais conversando:
-
Você falou com o caminhoneiro?
-
Sim, ele tem amnésia. Não lembra de absolutamente nada.
-
Que droga.
-
Aham. Velho inútil.
-
O que vamos fazer?
-
Tem que arquivar o caso, nada mais a fazer.
Feliz
com a notícia mas destruída por dentro por causa do filho, Márcia foi rezar na
capela. Depois, juntou-se ao marido e esperaram durante algumas horas o médico José. Perto das 23 horas do dia 24 de
dezembro, o médico chegou com uma notícia:
-
Dona Márcia e seu Leandro, tenho uma notícia.
-
Fala, doutor.
-
Ele vai acordar daqui a pouco, o efeito do anestesia está acabando. O resultado
do hemograma sairá em uma hora.
-
Mas ele poderá ir para casa hoje?
-
Infelizmente não. Ficará de repouso aqui até amanhã.
-
E a ceia, Márcia? - perguntou Leandro.
-
Sabe aquela frase sobre Maomé? - questionou Márcia.
-
Qual?
-
Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.
-
Traduzindo...
-
Vamos trazer tudo da ceia para cá. Doutor, tem como arrumar uma sala para
fazermos isso? - perguntou Márcia ao médico.
-
Sim.
-
Obrigada. Temos uma hora então.
Márcia
ligou para Célia e em uma hora, tudo da ceia de Natal estava numa sala bastante
enfeitada e bonita. Exatamente quando o relógio marcou meia noite, Guilherme
abriu os olhos, emocionando todos que estavam por perto.
-
Doutor, temos o resultado do hemograma?
-
Sim. Ele não está alterado.
Todos
estavam comemorando, mas o médico avisou:
-
Quase sempre, os exames acertam mas pode ser que ele tenha errado, mas tudo
isso será esclarecido em alguns dias. Pelas festas de fim de ano, dia 31 sai o
resultado.
Todos
ficaram muito felizes e conseguiram comer a comida da ceia mais tranquilos.
Depois da ceia, foi o momento da entrega dos presentes. Guilherme e Gabi
ganharam os brinquedos que desejavam e Leandro fez uma declaração para Márcia:
-
Márcia, mesmo com todos os problemas nos quais eu me envolvi, você sempre
esteve próxima, por isso quero fazer com você uma festa de renovação de votos.
Aceita? - disse ele, entregando um anel muito bonito para Márcia.
-
Claro.
Os
dois se beijaram e todos aplaudiram o momento. Aquele dia foi muito especial
para Márcia e toda sua família. Para ela, quem salvou seu filho e aquele Natal
foi o verdadeiro espírito do Natal.
Alguns
dias passaram-se e toda a família, muito ansiosa, foi ao hospital no dia 31
para buscar o resultado do mielograma. O doutor José Marcos anunciou:
-
Esse exame é o que vale realmente. Guilherme, fique tranquilo e curta sua vida,
porque você não tem leucemia.
Toda
a família ficou muito feliz e todos abraçaram Guilherme. Para eles, aquele fim
de ano foi marcado como uma época especial, onde prevaleceu o bom espírito do
Natal, e por que não do Ano Novo também?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário