Cena 01.
Quarto/ Int./ Dia.
Um quarto
com roupa de cama, cortinas e paredes brancas. Vera está sem maquiagem e também
de roupa toda branca, sentada em uma cadeira, de frente para uma pessoa que a
CAM não revela, mas que sabemos estar sentada também.
Vera (atordoada)
– Eu
não me lembro de muita coisa, sabe? Só lembro-me de um grito estridente que dei
quando vi aquele caminhão na minha direção. Meu Deus é tudo que sei daquele
dia, daquela época.
Vera se
levanta, vai até a mesa, pega uma xícara de café e toma apressadamente, logo
após, volta seu olhar para a pessoa.
Vera – Eu sei que
café em excesso faz mal. Aprendi isso quando estava no ginásio. Acho que era na
7ª série, na aula de ciências. Mas o fato é que esse café me alimenta.
Esquenta-me o corpo e alma. Diz você, o que faria se acordasse num dia comum e
descobrisse que não se lembra de toda uma vida? Diz o que faria se conhecesse
uma pessoa que diz ser seu marido há oito anos e você sequer tem alguma vaga
lembrança dele? Isso tudo é demais pra mim.
Vera tapa o
rosto com as duas mãos, como se quisesse se esconder.
CAM vai se
distanciando de Vera aos poucos e focalizando numa foto em que ela está
abraçada ao marido e vestida de noiva.
LETREIRO
COM: “Meses atrás”.
Corta para:
Cena 02.
Clínica Médica/ Fachada/ Ext./ Dia.
Fluxo
natural de carros passando pela via, até que a CAM foca no letreiro com os
dizeres: Clínica Família Mascarenhas.
Diálogo da
cena posterior.
César (off)
– Mas
a senhora tem que reduzir nos carboidratos. É uma dieta rígida mesmo.
Paciente
(off) – Mas eu não gosto de verdura e nem de frutas.
César (off)
– Vai
além de gostar. A senhora necessita ter uma vida mais saudável. Caso contrário,
vai virar uma das pilastras dessa clínica, de tanto que vai ter que voltar
aqui.
Paciente
(off) – Deus que me livre doutor César.
César ri.
Corta para:
Cena 03.
Clínica Médica/ Recepção/ Int./ Dia.
Três
mulheres estão sentadas em um sofá lendo revistas, enquanto a recepcionista
está atrás do balcão digitando algo no computador.
César abre
a porta de seu consultório e sai, dando passagem a uma mulher que aparenta ter
entre 50 e 55 anos, alta, gorda e com cabelos levemente grisalhos.
César – Isso é tudo
né?
Paciente – Já sei,
tenho que voltar daqui a noventa dias, certo?
César – Mais
pontual que Big Bang.
Paciente – Então até
mais ver.
César
(amigável) – Tchau meu bem.
A paciente
vai embora. César chega até o balcão da recepção.
César (a
recepcionista) – Tem mais alguém?
Recepcionista
– Hoje
não.
César – Que ótimo.
Vou pegar minhas coisas e correr pra casa. A Vera tá a fim de ir ao cinema
hoje.
Recepcionista
– Bom
filme!
César
(entrando) – Obrigado!
César entra
em sua sala, enquanto a CAM continua filmando a sala de recepção como um todo,
segundos depois ele sai da sala com sua maleta e vai embora.
Corta para:
Cena 04.
Casa de Vera/ Quarto/ Int./ Dia.
Vera está
com dois vestidos nas mãos, enquanto sua cama está cheia de roupas e o
guarda-roupa aberto.
Vera
(indecisa) – Vestido social ou casual?
Nesse
instante uma senhora toda pomposa entra no quarto.
Idalina – Não vou nem
bater.
Vera
(olhando os vestidos) – Entra mamãe. Achei que a senhora estivesse no
cabeleireiro.
Idalina – Vim te
avisar justamente que estou indo ao salão.
Vera – Antes me
ajude a escolher um vestido pra hoje.
Idalina – Põe
qualquer um. Você fica bem em todos. Vai sair com o César?
Vera – Comemorar
oito anos de casados. E se Deus quiser, vou engravidar ainda esse ano.
Idalina – Tomara
mesmo. Nenhum casamento sobrevive mais de dez anos sem filho. Se liga nessa
hein. Agora trata de colocar o vestido azul, ele é chique e simples. Aliás, o
verdadeiro requinte está na simplicidade inteligente.
Idalina sai
do quarto e Vera pega o vestido azul, coloca a frente do corpo e se olha no
espelho.
Vera (se
olhando no espelho) – Gosto dele. Vai ser esse mesmo.
Corta para:
Cena 05.
Cinema/ Entrada/ Ext./ Noite.
Em uma
extensa fila, estão: Vera e César.
César – Tomara que
consigamos uma boa poltrona. Assistir filme lá na frente é uma merda.
Vera – A gente
poderia ter ido ao teatro e ter assistido...
César
(corta) – Ter assistido pela décima vez “O Medalhão de Chocolate”. Essa
peça está em cartaz há mais de seis meses e nós já a vimos pelo menos umas
cinco vezes. Chega né Vera.
Vera
(séria) – Ultimamente a gente só faz o que você quer.
Antes de
César responder, a fila começa a andar e eles rapidamente adentram a sessão.
Corta para:
Cena 06.
Casa de Vera/ Sala/ Int./ Noite.
César abre
a porta e entra, Vera entra em seguida, joga sua bolsa no sofá e se senta já
tirando o salto.
Vera – Você
permaneceu monossilábico o jantar todo.
César – É.
Vera – Qual foi
César? No cinema eu relevei, porque não pode falar, mas agora no restaurante,
na nossa comemoração de oito anos de casado, você simplesmente me ignora?
César vai
até a cristaleira e se serve de uma dose de uísque.
Vera – Eu não
tenho nada contra a gente fazer o que você quer, mas eu acho que de vez em
quando, você poderia ser menos egocêntrico e pensar em mim também, somos um
casal.
César – Sim, somos
um casal, talvez o único casal sem filhos até hoje Vera. Todos os nossos amigos
que casaram muito tempo depois tem filhos, e nós? Nós estamos aqui, parados no
tempo.
Vera – Você tá
querendo dizer que a culpa é minha?
César – Não sei,
mas eu tenho uma filha de nove anos, ou seja, não tenho problemas para fazer filho.
Vera (rude)
– Entendi
tudo. Acusações novamente, né? Eu só vou engravidar, quando eu quiser. Agora vá
pra puta que te pariu.
Vera sobe
as escadas correndo e chorando.
César
(gritando) – Vera volta aqui. Não foi isso que eu quis dizer.
Dona
Idalina aparece no alto da escada.
Idalina – Cuidado com
o que você diz César, as palavras machucam muito mais do que uma surra. A Vera
está abalada, acuada por ainda não ter engravidado. Você como marido deveria
apoiá-la.
César – Eu não sou
de ferro dona Idalina. A pressão é grande do meu lado também. Ou a Vera
engravida, ou eu engravido outra. Avisa a sua filha.
César vai
saindo em direção à porta de entrada.
Idalina – Aonde você
vai?
César – Vou pra
casa da minha mãe. Não tenho clima pra ficar aqui hoje.
César sai e
Idalina fica parada, triste.
Corta para:
Cena 07.
Morro/ Ext./ Noite-Dia.
(Música
“Relicário” – Nando Reis e Cássia Eller). Transposição da noite para o dia,
mostrando a beleza do sol nascente em um morro verdejante, que aos poucos vai
se enchendo de gado.
Corta para:
Cena 08.
Fórum/ Corredor/ Dia.
Um enorme
corredor com algumas pessoas circulando pelo local, saindo e entrando em salas
e departamentos. CAM focaliza em Vera, com semblante triste, andando junto de
sua amiga, uma loira alta e muito bonita: a Fabiana, conversando. Conversa já
em andamento.
Fabiana – Ele disse
isso?
Vera – Foi
justamente esse o aviso que ele deu a mamãe.
Fabiana
(chocada) – Gente! Mas o casamento de vocês dois parecia tão
sólido.
Vera – Água mole
em pedra dura, tanto bate até que fura. O desgaste natural da relação e a falta
de filhos fazem isso.
Fabiana – Se eu fosse
você procuraria um profissional e tentaria engravidar o mais rápido possível.
Vera
(pensativa) – Não. Filhos só piorariam a história. O problema não
é a falta de filhos. O negócio é que ele já tá de saco cheio de bancar o
maridinho boa praça. Te aposto que tem outra na parada e nada me tira da cabeça
que é aquela recepcionista dele.
Fabiana – Você tá
achando que...
Vera
(corta) – Muito novinha, muito bonitinha. Sainhas curtas, blusas
decotadíssimas. É hoje que eu pego os dois no flagra.
Fabiana
(curiosa) – Você tá pensando em que?
Vera – Vou sair
mais cedo daqui e vou chegar lá de surpresa, me aguarde! Amanhã te conto tudo.
Vera vai
andando rápido e na frente de Fabiana.
Fabiana
(desesperada) – Vera se acalma, espera. Vera!
Vera
continua andando.
Corta para:
Cena 09.
Estacionamento do Fórum/ Ext./ Dia.
Uma enorme
tempestade cai sobre o local. Tempestade com direito a muitos raios e trovões.
O pátio do estacionamento está alagado, mas CAM focaliza em Vera entrando em um
carro e logo em seguida saindo desesperada.
Corta para:
Cena 10.
Ruas/ Ext./ Dia.
A
tempestade só faz aumentar e vemos o carro de Vera cortando, em alta
velocidade, vários carros pela pista, até que dá de frente com um caminhão que
buzina muito forte. O carro de Vera derrapa na pista, faz um giro de 360°.
Caindo logo em seguida numa ribanceira, onde capota várias vezes.
Corta para:
Cena 11.
Hospital/ Int./ Dia.
Vera está
muito machucada, sendo levada na maca para a sala de cirurgias, acompanhada de
vários profissionais médicos. Logo atrás vem César e Idalina.
César (ao
médico) – Eu sou marido dela e exijo entrar para ver a cirurgia.
Médico – Aqui você
não exige nada. Vai ficar aqui fora.
Vera e toda
a equipe médica entram para a sala de cirurgia. Enquanto César fica desolado em
um canto, junto de Idalina.
Idalina – Ela vai
viver, ela é forte.
César – É tudo
culpa minha dona Idalina. Se eu não tivesse dito tudo aquilo ontem, garanto que
nada disso teria acontecido.
Idalina – A gente não
tem o dom de prever o futuro César. Deixa isso para lá. O que passou, nenhuma
borracha é capaz de apagar.
Idalina
abraça César.
Corta para:
Cena 12.
Hospital/ Centro Cirúrgico/ Int./ Dia.
Vera está
deitada em uma cama, sedada. Tudo muito quieto, todos os profissionais
concentrados na cirurgia. Os únicos barulhos vêm dos aparelhos em que Vera foi
submetida.
Corta para:
Cena 13.
Imagens Aleatórias/ Ext./ Dia-noite.
Imagens
aéreas explorando as árvores, praças e o bucolismo, com a transposição do dia
para a noite.
Corta para:
Cena 14.
Hospital/ Sala de Espera/ Int./ Noite.
Apenas
Idalina e César estão na sala. Idalina muito triste, mas com semblante calmo.
Já César está arrasado, com os olhos marejados de tanto chorar.
César (inquieto)
– Mais
de seis horas já e a gente sem notícia.
Idalina – Ela operou
a cabeça. Isso demora mesmo.
César – Mas eu não
aguento ficar sem notícias. Se não vierem trazer notícias, eu arrombo aquele
lugar.
Idalina – Essa sua
atitude só pioraria a situação da Vera.
Idalina
começa a rezar em voz baixa, enquanto César anda de um lado para o outro. Um
médico se aproxima deles.
César
(desesperado) – O que aconteceu com a minha mulher? Ela está bem?
Médico – O acidente
foi muito grave e a cirurgia foi delicada demais. Levamos horas e horas.
Idalina
para de rezar e se aproxima.
Idalina
(segurando o choro) – A minha filha... Ela faleceu?
Médico – Ainda não.
César
(atordoado/chorando) – Como assim ainda não?
Médico – Ela está...
Corta
rápido para:
Cena 15.
Hospital/ Quarto Médico/ Int./ Noite.
Vera está
deitada na cama, coberta por um lençol e de olhos fechados, como se estivesse
em um sono profundo. Em volta dela estão César, o médico e dona Idalina.
Ligar o
diálogo desta cena com o do fim da cena anterior, como se fosse complementares.
César – Em coma?
César se
aproxima mais e começa a alisar o rosto da esposa.
Médico – A gente não
sabe se o coma é algo bom ou ruim nas circunstâncias atuais. Teremos que
esperar pelo menos mais 24 horas para saber.
O médico
vai se afastando, até sair do quarto.
César
(arrasado) – Coma. A Vera está em coma dona Idalina.
Idalina
chega próxima de César e segura em suas mãos, como se tivesse dando força.
Idalina – O coma tem
um caráter emblemático, parece estacionado na fina fronteira entre a morte e a
vida.
César – Eu tenho
que reconhecer, a senhora sabe manter a calma necessária.
Idalina – Eu tento.
Às vezes eu consigo, e outras nem tanto. Mas eu não perco a fé, não perco a
esperança.
César
abraça Idalina, e os dois caem em uma profunda emoção.
Corta para:
Cena 16.
Hospital/ Quarto Médico/ Int./ Noite e Dia.
Vera
permanece imóvel, deitada na cama (como em um profundo sono). Imagens
desconectas de Idalina e César, várias vezes no quarto, com diferentes tipos de
roupas, simbolizando que eles estiveram ali por vários dias.
Close na
última entrada de César e Idalina ao quarto.
César – Exatos seis
dias no coma.
Idalina – Exatos seis
dias sem respostas, sem saber quando a minha filha vai acordar. Sabe, César, o
que me mantém viva talvez seja a esperança de que esse coma é passageiro.
César – E ele é.
Idalina – E se não
for? Se a vontade de Deus for maior do que a nossa vontade? Eu te juro meu
querido, eu quero muito a minha filha aqui, perto, mas bem perto de mim. Para
muitas pessoas isso pode ser egoísmo, mas pra mim se chama amor.
César e
Idalina olham por entre a janela do quarto, admirando a paisagem.
César – Tantos dias
aqui e a gente até se esqueceu da vida lá fora.
Idalina – O coma tem
disso: a vida congela pra gente, mas continua lá fora. É aí que a gente vê o
quão pequeno somos. Que a vida segue seu fluxo, mesmo sem a gente.
Idalina e
César continuam admirando a paisagem. CAM Aérea focaliza no rosto de Vera. De
repente Vera abre os olhos e fica espantada.
Vera (pra
si) – Onde eu tô?
César e
Idalina olham assustados para Vera.
César
(feliz) – Meu amor, você acordou?
César corre
e começa a beijar o rosto de Vera, que faz uma careta estranha.
Idalina
(feliz) – Enfermeira venha. A Vera acordou.
Vera
(confusa) – Acordei de que? Onde eu estou mãe? Nossa mãe, como a
senhora envelheceu.
Nesse
instante aparece uma equipe médica apressada.
Médico – Nós iremos
fazer alguns exames e se a Vera estiver bem, ela poderá ir embora com vocês.
César – Deus é pai!
Médico – Agora
preciso que vocês saiam.
Idalina e
César saem, enquanto a equipe médica começa os procedimentos para a realização
de alguns exames.
Corta para:
Cena 17.
Casa de Vera/ Fachada/ Ext./ Dia-Noite.
(Música
“Relicário” Nando Reis e Cassia Eller). Imagens da parte frontal da casa, que é
de dois andares, em cor amarela, com janelas e porta de madeira envernizada.
Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 18.
Casa de Vera/ Quarto/ Int./ Noite.
Vera está
deitada na cama, enquanto Idalina e César estão sentados em poltronas de frente
para ela.
Vera – Isso só
pode ser uma brincadeira de muito mau gosto. Eu estava dormindo na casa da
Vivian e de repente apareço toda entubada, com um bando de médicos fazendo
exames loucos em mim. Um homem que nunca vi na minha vida me beijando e a minha
mãe envelhecida uns dez anos. Eu não sei qual foi a droga que colocaram na
minha bebida, mas foi porreta.
Idalina – Parece
mesmo um mix de confusões. E é uma confusão danada, e dos dois lados, imagina
que pra mim e para o César nada está sendo fácil.
César se
levanta.
Idalina – O médico
disse que após o grave acidente e que os vários dias em coma te deixaram com
uma lesão na parte do cérebro que guarda as lembranças de médio e curto prazo.
Vera – Como assim
mãe?
César – Isso quer
dizer que você perdeu parte da sua memória. Que você não se lembra de nada que
aconteceu após seus 19 anos de idade. Você não se lembra da faculdade de
direito, não se lembra de mim e nem do nosso casamento.
Vera – Vocês estão
dizendo que sofri um acidente? E que antes disso eu era uma advogada casada?
César – Exatamente.
Nós nos casamos há oito anos.
Idalina – Vai ser
difícil você se acostumar, eu sei. Mas as fotos vão te fazer lembrar.
Corta para:
Cena 19. Casa
de Vera/ Sala/ Int./ Noite.
Verá está
sentada no sofá com um enorme álbum de fotos em mão, olhando as fotografias,
com um semblante de surpresa, a cada página virada. César está ao seu lado.
Vera
(contida) – Então quer dizer que é verdade. Me formei em Direito
e me casei com você?
César – Olhando
agora, você se arrepende?
Vera – Não dá pra
me arrepender do que eu não vivi. Não tem como eu gostar de você, ou detestar
você. Simplesmente estou confusa, estou sem saber o que fazer.
César – Não
desanime Vera. Nós estaremos juntos para construir um novo caminho. Se as
possibilidades foram escassas, se os caminhos não foram delineados
corretamente, a gente aperta o pause e espera, espera até que uma nova ideia,
uma nova solução surja.
Vera para
de ver o álbum, coloca-o no canto do sofá e olha nos olhos de César.
Vera – Você me ama
realmente?
César – Mais do que
qualquer outra coisa. Eu sei que sou meio estourado, que falo as coisas sem
pensar. Mas meus sentimentos são assim: a flor da pele. Eu não sei dizer que te
amo, quando eu realmente não amo. Mas Vera, eu nunca me cansei de você, eu
nunca, sequer, deixei de amar com a mesma intensidade que há oito anos.
Vera deixa
uma lágrima escorrer.
Vera – Você está
pronto para ter uma rotina diferente? Está pronto para ser mais do que um
marido apaixonado? Você precisará ser meu professor. Vai ter que me ensinar
como é a vida de casado.
César – Farei
melhor, te conquistarei novamente. Terei seu amor pela segunda vez, provando
que somos almas gêmeas.
Vera beija
César.
Corta para:
Cena 20.
Praça/ Ext./ Dia.
Uma praça
muito bonita, com alguns aparelhos de ginástica, onde várias pessoas, entre
elas Vera, se exercitam.
Corta para:
Cena 21.
Consultório Psiquiátrico/ Int./ Dia.
Vera e
César estão sentados de frente para um psiquiatra.
Psiquiatra
– Vera,
não ache que você é maluca. Só está aqui por motivo de força maior, que
ultrapassa os cuidados da medicina tradicional.
Vera – É o senhor
que vai me ajudar a ter uma vida normal?
Psiquiatra
– Eu
vou te ajudar a não pirar. Tanta novidade, que nem é novidade, acaba afetando
nosso psicológico. Você necessita de ajuda especializada para compreender essas
transformações que a vida a fez submeter-se.
Vera – Eu acho que
nunca vou conseguir voltar a ser a Vera que eu era, mas de alguma forma, eu sei
que me tornarei uma Vera melhor.
César
segura firme na mão de Vera.
César – Se o
destino se encarregou de modificar a sua história, com certeza é porque Deus
sabe o quanto você é forte e pode tirar tudo isso de letra.
Close em
Vera e César de mãos dadas.
Corta para:
Cena 22.
Quarto/ Int./ Dia.
Vera na
mesma posição e no mesmo lugar da cena 01. Como um elo entre as cenas.
Vera – Não foi
fácil. Foram dias terríveis, intermináveis. Achei que iria desistir de tudo,
que sumiria sem lenço e sem documento. Mas ali, eu entendi o sentido de
família. Ali eu vi que amor de verdade é o que faz a diferença.
A imagem de
Vera olhando para a tal pessoa misteriosa se funde com a cena seguinte, que
volta no tempo.
Corta para:
Cena 23. Consultório
Psiquiátrico/ Int./ Dia.
Vera está
sozinha na sala, chorando. O psiquiatra entra, mas leva um susto ao vê-la ali.
Psiquiatra
(surpreso) – Vera? O que faz aqui hoje?
Vera – Eu sei que
não é o meu dia, mas eu precisava vir. Precisava desabafar com alguém que não
fosse da minha família.
Psiquiatra
– Diga.
Vera – Eu tô
grávida. Eu não acredito nisso. Só tenho 19 anos.
Psiquiatra
– Vera,
você tem 31 anos, lembra?
Vera – Eu não me
lembro de nada. Mas como eu posso estar grávida? Eu não quero estar grávida. Há
muitas coisas pra eu lembrar ainda.
Psiquiatra
– A
primeira é a de que seu amor por sua família é tão grande, que está sendo
depositado em outra pessoa.
Vera – E o César
tanto conseguiu que me fez amá-lo de verdade. Ele foi parceiro, foi fundamental
para a minha recuperação, para meu amadurecimento.
Vera seca
as lágrimas e sai do consultório.
Corta para:
Cena 24.
Cidade do Guarujá/ Pontos Turísticos/ Ext./ Dia-Noite.
(Música
“Lugar ao Sol” – Charlie Brown Jr.). Imagens dos pontos turísticos da cidade,
fazendo a transposição do dia para a noite. A última imagem do clipe é a Praia
de Pernambuco, já a noite.
LETREIRO:
“Vera é uma vencedora”.
Corta para:
Cena 25. Guarujá/
Praia de Pernambuco/ Int./ Noite.
Uma parte
da praia está toda enfeitada com rosas brancas e tochas de fogo, fazendo um
caminho até um cerimonialista.
Em torno de
vinte convidados, TODOS VESTIDOS DE BRANCO, estão no local, entre eles: Idalina
e Fabiana.
César chega
sob aplausos e fica próximo ao cerimonialista.
Um grupo
começa a cantar a música “Relicário” apenas a voz e violão. Nesse instante Vera
aparece, com uma gestação de nove meses e vestida de noiva, com um arco de
flores brancas no cabelo.
Vera passa
pelo caminho que as tochas fazem e chega até César. Os dois então ficam de
frente para o cerimonialista.
Cerimonialista
– Que
essa segunda bênção dobre o amor de vocês e o amor desta criança que está por
vir. Desejo felicidades ao casal e que as energias da luz verde possam
abraça-los. Eu vos declaro: duplamente casados.
Todos
aplaudem e cai sobre o casal uma chuva de pétalas de rosas brancas.
Vera e
César se beijam.
Corta
rapidamente para:
Cena 26.
Auditório/ Int./ Dia.
Um enorme
auditório está lotado de pessoas e no palco se encontra Vera, falando a todos
com o microfone.
Vera – E essa foi
a experiência que eu vivi, que eu convivi e que guardarei para sempre. Essa é
mais uma das tantas histórias, das tantas tramas que o destino tece sem que a
gente se dê conta.
Vera fica
visivelmente emocionada.
Vera – Eu queria
trazer ao palco a minha família, a qual sem eles, eu não seria nada. Venha cá,
minha mãe Idalina, Meu esposo César e a minha filha Vitória.
Idalina e
César sobem ao palco com uma menina, tendo mais ou menos dois anos de idade.
Todos se abraçam e são aplaudidos, enquanto ouve-se uma mensagem narrada por
Vera.
Vera (off/áudio) – “O degrau de uma escada não serve
simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o
pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais
alto.”
A imagem da
família vai ficando cada vez mais embaçada, surge um barulho de máquina
fotográfica, a imagem congela.
FIM.
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