domingo, 28 de dezembro de 2014

Episódio 8: Orações para Bobby

No Episódio Anterior...
Nancy (preocupada): O que houve?
Joy (chorando): Nancy sai daqui. (gritos) Pai! Paiiii...

Mary (curiosa): Robert? O que houve?
Robert (abalado): O Bobby se matou.

Reverendo Owens: A morte de um ente querido é sempre uma grande perda. Ainda mais quando se trata de uma pessoa tão jovem e cheia de vida.

Mary (atordoada): Mãe? A senhora acha que o Bobby se salvou?
Ophélia (impaciente): Olha Mary, eu não sei. Agora trate de se recompor.

David (estendendo a mão): Senhor e Senhora Griffith, eu sou o David. Eu era o namorado do Bobby.
Mary fixa seu olhar para David.

Mary: Quando o Bobby estava aqui em casa, sob o nosso controle ele estava bem. Mas foi só se mudar para Portland e alguém começou a encher a cabeça dele de coisas.
Jeanette: Isso não é verdade, tia Mary. O David gostava do Bobby. Alguém que nem ao menos conhecia o Bobby estava lá parado condenando e vocês deixaram.

Mary (chorando): Vocês não entendem. Eu não sei o que fazer. Preciso estar em paz com isso e não consigo.

Mary: A bíblia diz que a homossexualidade é um pecado punido com morte.
Whitsell: Também diz a mesma coisa sobre mulheres que não são mais virgens antes do casamento ou crianças que desobedecem os pais.
Mary: Não deveria ensinar esse tipo de coisa. Isso confunde mais a cabeça deles.
Whitsell: EU apenas lhes digo o que eu penso. Que Deus os ama do jeito que eles são.

...

Episódio – REDENÇÃO

Cena 01 – Igreja Metropolitana/Interior/Sacristia/Dia

O reverendo Whitsell estava organizando algumas coisas. Mary entra na sacristia.
Mary: Eu achei as passagens que o senhor me falou, é sobre apedrejar até a morte. Mas e quanto a Sodoma e Gomorra? Deus puniu o pecado da homossexualidade. Como consegue explicar isso?
Whitsell: Um bom dia para você também, Mary.
Mary (sem graça): Perdão. O que está fazendo.
Whitsell: Bazar. Gays também fazem caridade.
Mary: Bem, quanto a minha pergunta.
Whitsell: Estudiosos afirmam que o pecado que destruiu Sodoma e Gomorra foi a luxuria e a soberba, e não a homossexualidade. Rotularam como homossexualidade muitos anos depois de ter sido escrita.
Mary (irritada): Tem resposta pra tudo só pra justificar ser dessa maneira é isso?
Whitsell: Se tem para justificar se está errado. Acho que estamos em um impasse agora.
Mary: O senhor acha que está bom interpretar a bíblia da maneira que quiser?
Whitsell: Não. Claro que não. Mas a bíblia foi escrita e interpretada por homens mortais. E muitas interpretações são reflexos do tempo em que viviam.
Mary: Então sente-se a vontade para questiná-las? Porque eu acho que isso é blasfêmia.
Whitsell: Deus não faz perguntas por não se emocionar com nossas respostas. Eu acho que a fé cega é tão perigosa quanto o ateísmo.
Mary: Eu nunca questionei a minha fé. Eu nunca tive razão para isso.
Whitsell: Muitas vezes questionar ajuda a encontrar a fé profunda.
Uma breve pausa.
Whitsell: Mary. Já ouviu falar em PFLAG? É uma organização de pais e familiares de lésbicas e gays. Talvez eles ppudessem ajuda-la a ver que não está sozinha.
Mary (caminhando rumo a saída): Não. Acho que isso não é para mim.
Whitsell: Espere. Tem uma mulher, Bett Lambert. Você vai adorá-la. Ela tem um filho gay de uns 30 anos.
Mary: Não reverendo. Eu só tinha umas perguntas, não preciso de mais nada.
Whitsell (entregando um cartão): Caso mude de ideia.
Mary pega o cartão e sai.

Cena 02 – Casa dos Griffith/Sala/Noite

Mary estava limpando os móveis. Robert estava assistindo o jogo na televisão.
Mary (enquanto limpa): Ele estava certo sobre as passagens bíblicas. Então talvez ele também possa estar certo sobre as interpretações referente a homossexualidade.
Robert: É Mary. Talvez. Eu não estava tão interessado na interpretação velha da bíblia.
Mary: Eu só estou querendo dizer que isso significa que o Bobby está no céu.
Robert (impaciente): Ele não está aqui Mary. Isso não basta para você?
Mary: E isso basta para você?
Robert se levanta e sai.
Mary: Isso. Sai andando como você sempre faz.
Robert para e olha para Mary.
Robert: Então você quer dizer que se eu tivesse lidado com o Bobby ele ainda estaria vivo? É isso que você quer dizer? Responda Mary. É isso?
Mary fica em silêncio. Robert bate a mão na porta.
Robert (apontando o dedo para Mary): Escuta aqui Mary, o Bobby se foi e não há nada que possamos fazer por ele. Nada vai trazer ele de volta.
Mary (gritando e chorando): Eu sei disso. Você acha que eu não sei disso.
Robert sai e Mary senta no sofá, chorando.

Cena 03 – Casa dos Griffith/Sala/Dia

Som da campainha tocando. Mary atende.
Bett: Mary? Sou eu, Bett Lambert. Você me ligou.
Mary: AH, sim. Entre.

Cena 04 – Casa dos Griffith/Cozinha/Dia

Mary serve chá para Bett.
Bett: O reverend me disse que o seu filho se matou. Quando foi?
Mary: A seis meses atrás. Ele pulou de uma ponte.
Bett: Eu sinto muito. Deve ser horrível passar por isso.
Mary: E o seu filho? Quando descobriu que ele era homossexual?
Bett: Ele tinha 14 anos quando se abriu para nós.
Mary: Nossa. E não era muito novo?
Bett: Não exatamente. Eu já sabia bem antes disso acontecer. Nós mães sempre sabemos, não é verdade?
Mary: E como você reagiu quando soube?
Bett: Bem, no início eu levei um susto, mas depois aceitei. Acho que nenhum pai que escute “sou gay” vá dizer “Oh, que bom”.
Mary: Bobby era um bom menino.
Bett: Escuta Mary. Porque não assiste uma das reuniões da PFLAG. Você vai ficar estarrecida ao ver que não é a única família americana.
Mary: Não. Eu não sou muito boa em falar em público.
Bett: Então não fale. Apenas vá e escute. Tenho certeza que isso irá fazer você ver por outro lado.
Mary fica pensativa.

Cena 05 – Sala da PFLAG/Interior/Dia

Mary entra na sala. Bett a recebe.
Bett (cumprimentando ela): Que bom que veio.
Mary: EU não posso demorar muito.
Bett: Não tem problema. Sente-se em algum lugar ali.
Mary senta em uma cadeira. Era um círculo. Ela começa a ouvir os depoimentos.
Mulher 1: Meu filho era agredido constantemente na escola. Os outros colegas o chamava de bichinha. Quando fui falar com o diretor ele simplesmente não quis nem me ouvir.
Homem: Meu filho San, tinha 18 anos quando se assumiu para mim. E quando ele fez aniversario, me pediu uma camiseta rosa da Lacoste. Então eu o levei para caçar e quando vi um veado, para brincar com ele eu disse: corra bambi, corra. (todos riem) Eu sempre soube que poderia amar o meu San, mesmo ele sendo diferente.
Mulher 2: Bem, quando minha filha Gill se assumiu para mim, eu insisti para que ela procurasse um psiquiatra. Mas quando aquele homem sugeriu terapia de choque, eu olhei nos olhos da minha menina e pude ver a dor estampada neles. Então saimos de lá e fomos embora.
Whitsell entra na sala.
Bett: Reverendo? Que surpresa boa.
Whitsell: Olá pessoal.
Whitsell vê Mary e cumprimenta ela.
Bett: O reverendo Whitsell encaminhou um projeto para ser votado na câmara municipal.
Whitsell: O projeto visa dar aos gays e lésbicas, um dia, para comemorarem o orgulho de ser quem são. Será votado dentro de alguns dias, e conto com a presença de todos vocês.

Cena 06 – Casa dos Griffith/Sala/Tarde

Robert estava dormindo no sofá. Mary se aproxima e o acorda com um beijo. Ela abraça ele.

Cena 07 – Casa dos Griffith/Quarto de Mary/Noite

Mary acorda com o som de um trovão. Começa a chover. Ela levanta e começa a rasgar todos os bilhetinhos que ela havia feito para Bobby, sobre as passagens bíblicas.

Cena 08 – Igreja Metropolitana/Frente/Noite/Chuva

Whitsell chega e encontra Mary na chuva.
Whitsell (espantado): Mary? O que faz aqui? Está toda ensopada. Vamos entrar.

Cena 09 – Igreja Metropolitana/Interior/Noite/Chuva

Mary senta em um dos bancos e Whitsell fica de pé.
Mary: Eu não sabia para onde ir. Eu estava lá sentada ouvindo todas aquelas histórias de como eles sempre souberam que seus filhos eram diferentes. E então eu tive um sonho... Bobby era um bebê. Meu filho sempre foi diferente. A sua diferença começou na concepção. Eu sabia disso. Eu podia sentir. (Chorando) Agora sei por que Deus não curou Bobby... Não o curou porque não tinha nada de errado com ele... Eu fiz isso... Eu matei o meu filho.
Whitsell (abraçando Mary): Não diga isso. Você não matou ninguém. O Bobby se matou.
Mary: Como Deus vai me perdoar? Como Bobby vai me perdoar?
Reverendo: Deus já deu o seu perdão. Agora você tem que se perdoar.
Mary: Eu sinto tanto. Eu sinto tanto.

Cena 10 – Cemitério/Dia
Mary estava no túmulo de Bobby. Ela coloca um ramalhete de flores sobre o túmulo.
Mary: Querido Deus, dê-nos algo com que possamos viver, e transmita aos outros, cujas vidas nunca serão as mesmas por causa da morte de entes queridos. Eu não decidi ter olhos castanhos, e agora compreendo que Bobby não decidiu ser gay. Se Tu dizes nas tuas palavras que é maligno e satânico nascer sem braços, e uma criança nasce sem braços, o que essa criança vai pensar?

Cena 11 – Câmara Mucipal de Wanult Creeck/Frente/Dia

Mary encontra Bett na frente. Haviam várias pessoas apoiando e outras sendo contra o projeto do reverendo Whitsell. Elas dão as mãos e entram na câmara.

Cena 12 – Câmara Municipal de Wanult Creeck/Interior/Dia

A seção havia começado. As bancadas estavam compostas por padres, religiosos e defensores da PFLAG.
Presidente: Nossa primeira pauta de hoje é um projeto do reverendo Whitsell sobre um dia de liberdade gay em Wanult Creeck. Começamos ouvindo o reverendo Whitsell.
Whitsell: Para um dia. Um dia para que as pessoas comemorem suas diferenças antes de sentirem pena.
As bancadas se manifestam.
Homem: Isso é uma pouca vergonha.
Mulher: Existem tantas pessoas precisando de nossa ajuda e nossa atenção, porque estamos desperdiçando com isso?
Presidente: Tudo bem vamos fazer ordem aqui, por favor.
Reverendo Owens: Eles cospem no rosto da decência e da moralidade. Não podemos permitir que a fábrica da nossa sociedade seja separada a força.
Mary fica apenas ouvindo.
Presidente: Então, a menos que alguém tenha algo a acrescentar iremos terminar a seção.
Mary se levanta e se dirige à bancada para falar.
Mary: A homossexualidade é um pecado.
Algumas Pessoas: É. Isso mesmo.
Mary: Os homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno.
Algumas Pessoas: Isso.
Mary: Se eles quisessem poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação poderiam ser normais de novo. Se ao menos eles tentassem e tentassem de novo. Estas foram as coisas que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay. Quando ele disse que era homossexual, meu mundo desmoronou. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses atrás, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo profundamente da minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Vejo que tudo que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram. Se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu seu coração para mim, talvez eu não estivesse aqui hoje com vocês, cheia de arrependimento. Eu acredito que Deus está contente com o espírito gentil e amável do Bobby. Aos olhos de Deus, gentileza e amor são tudo que importa. Eu não sabia que, cada vez que eu ecoava a condenação eterna aos gays cada vez que eu me referia ao meu Bobby como doente e pervertido, e perigoso às nossas crianças a sua autoestima e os seus valores estavam sendo destruídos. E finalmente, seu espírito se quebrou para além de qualquer conserto. Não era o desejo de Deus que Bobby se debruçasse sobre o muro de uma ponte, e pulasse diretamente na frente de um caminhão de 18 rodas que o matou instantaneamente. A morte de Bobby foi o resultado direito da ignorância e do medo dos seus pais quanto a palavra gay. Ele queria ser escritor. Suas esperanças e sonhos não deviam ter sido tirados dele, mas foram. Há crianças, como o Bobby, sentadas nas suas congregações, desconhecidas de vocês, elas estarão escutando, enquanto vocês ecoam "Amém". E isso, de pressa, silenciará as suas preces. As suas preces à Deus, por compreensão, e aceitação, e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio, e medo, e ignorância da palavra "gay", irão silenciar essas preces. Por isso, antes de ecoarem "Amém", em sua casa ou local de adoração, pensem e lembrem, uma criança está ouvindo.
A grande maioria aplaude Mary.
Whitsell: Mito bom, Mary.

Cena 13 – Casa dos Griffith/Sala/Dia

Mary entra e é ovacionada pelos filhos e por Robert.
Joy: Você foi incrível, mãe.
Nancy: A gente viu você pela tv.
Mary: Nós perdemos.
Robert: Mas ano que vem tentamos de novo... Você tem certeza de que quer ir para São Francisco?
Mary: Sim. Eu acho que não tenho escolha.

Cena 14 – São Francisco/Califórnia/Cidade

Imagens da cidade. Ponte. Prédios.

Cena 15 – Sâo Francisco/Rua/Parada Gay

Mary, Robert, Joy, Ed e Nancy chegam na parada e encontram Bett.
Mary: Estou atrasada?
Bett: Não. Chegaram bem na hora. Venham, eu tenho um lugar especial para vocês.
Os Griffith desfilam segurando a bandeira da PFLAG, juntamente com Whitsell e Bett.

Mensagem de Mary Griffith: A todos os Bobbies e Janes por aí... Digo a vocês estas palavras, como as diria aos meus preciosos filhos. Por favor, não desistam da vida, nem de vocês. Vocês são muito especiais para mim. Estou trabalhando muito para fazer deste mundo um lugar melhor e mais seguro para vocês viverem. Prometam-me que vão continuar tentando. O Bobby desistiu do amor. Espero que vocês não o façam. Vocês estarão sempre no meu coração.

Enquanto desfila, Mary vê um garoto que o faz lembrar de Bobby. Ela se afasta dos demais e caminha até o garoto, dando um abraço nele.

Mensagem do diário de Bobby Griffith: Meu nome é Bobby Griffith. Escrevo isto na esperança de que um dia, daqui a muitos anos, eu possa ser capaz de voltar, e me lembrar de como era a minha vida quando eu era um jovem adolescente confuso, tentando desesperadamente me compreender no mundo em que vivia. Outra razão pela qual escrevo isso é para que muitos, após a minha morte, possam ter a chance de ler ao meu respeito e ver como foi a minha vida enquanto jovem.

Mary larga do garoto e volta para junto de sua família.

Dedicado a Memória de BOBBY GRIFFITH e LEROY AARONS
Crédito: LIFITIME


FIM

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